Nas últimas semanas assistimos a quedas nos mercados accionistas mundiais de tal forma expressivas que ameaçam colocar fazer deste Dezembro, o pior mês desde 1931, ou 87 anos. Após um período de divergência com os restantes mercados desenvolvidos, o mercado americano cedeu também ele a perdas substanciais.

As bolhas no imobiliário em países como o Canadá, Austrália, EUA; o impasse político nos EUA, com alterações importantes na Câmara dos Representantes; a possibilidade de saída involuntária do presidente da Reserva Federal; a negociação comercial dos EUA com a China ou Europa;  o abrandamento do crescimento económico chinês; a diminuição de perspectivas de crescimento dos resultados das empresas; a crescente instabilidade social; ou a retirada de estímulos por parte dos bancos centrais, são apenas alguns exemplos do ambiente de incerteza prolongada vivida no último ano.

Com excepção de Trump, nenhum político parece entender o efeito que os mercados podem ter na gestão orçamental, nas expectativas criadas e na capacidade de cumprir promessas.

Mas o presidente Trump vai mais à frente e percebe como a ausência da valorização dos mercados pode ter um impacto nas decisões de consumo e de investimento os agentes económicos, terminando por afectar o crescimento da economia, principalmente quando 33% da riqueza dos americanos está investida directamente no mercado.

No entanto, ao culpabilizar a FED pela recente correcção, Trump procura um bode expiatório. Foram os bancos centrais que patrocinaram a maior subida de sempre do mercado ao imprimirem dinheiro e reduzirem as taxas de juro para zero, prejudicando o pequeno aforrador. A recente normalização da política monetária por parte da FED é a única esperança face a uma desaceleração da economia mundial, uma vez que é o banco central que conseguiu recuperar algumas munições para revitalizar a sua economia.

Do lado europeu, depois de muitos anos a imprimir dinheiro, a política monetária bateu contra uma parede de burocracia vertida nas inúmeras directivas indecifráveis, que dificultam a actividade económica, na fadiga quanto à ausência de incentivos à iniciativa privada, e nas constantes lutas políticas.

Passaram-se dez anos da crise financeira e constatamos uma ausência de capacidade de combater seja o que for. Nem o sistema financeiro foi reestruturado, nem o crédito malparado diminuiu para níveis aceitáveis ou o crescimento económico conseguiu mitigar todos os riscos decorrentes do excesso de dívida.

Uma década perdida em que o BCE patrocinou o risco moral, tendo ajudado a manter instituições em funcionamento ou financiado países, sem obter garantias de solidez ou de reformas em troca.

Estamos a terminar mais uma década com níveis de desigualdade históricos, com o fosso entre a Europa e os EUA a aumentar. No meio de tanta confusão noticiosa, o que os mercados financeiros nos estão a transmitir é que em algum ponto os políticos têm de entregar, ou seja poucos não conseguem enganar muitos durante muito tempo. E já enganaram muito.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.