Numa conjuntura empresarial em constante evolução, onde a agilidade e a inovação ditam o ritmo de competitividade, a gestão eficaz do conhecimento assume-se como um dos pilares da sustentabilidade organizacional.
No centro desta questão reside um desafio muitas vezes subvalorizado, mas profundamente estratégico, pela garantia de alicerce e continuidade que encerra em si: a transferência de conhecimento entre gerações no seio das organizações.
Vivemos um momento único, com várias gerações a coexistir no mercado de trabalho: por um lado, profissionais experientes e estratégicos a aproximarem-se da reforma; por outro, jovens talentos com competências digitais, inovação e energia, mas pouca experiência acumulada.
Esta sobreposição geracional pode e deve ser vista como uma extraordinária oportunidade de crescimento e não como uma ameaça ou fosso, comprometedor da memória organizacional e da continuidade operacional.
O que de mais relevante se coloca é a preservação do conhecimento tácito – aquele que não está formalizado em documentos ou manuais, mas orienta e suporta decisões, molda práticas e sustenta a cultura organizacional. É um conhecimento invisível, mas fulcral, cuja perda pode repercutir-se em retrabalho, erros repetidos, redução de qualidade dos serviços e impactos diretos na eficiência e competitividade.
Com efeito, promover uma transferência eficaz desse conhecimento implica investimento deliberado – não apenas em programas de formação e mentoria, mas também na criação de uma estrutura que favoreça a partilha contínua. Esta abordagem requer tempo, espaço e, sobretudo, uma cultura empresarial que integre um paradigma de ensino-aprendizagem. Contextos marcados por um ambiente de constante pressão para a entrega de resultados, revelam um menor nível de permeabilidade para este tipo de processos.
Existem, contudo, práticas eficazes como programas de mentoria intergeracional, que promovem a transmissão segura de conhecimento, unindo experiência e criatividade. A observação direta, a rotação de cargos e a partilha informal também fortalecem a colaboração e a confiança. É crucial sistematizar o saber, documentando processos e lições aprendidas, para criar um legado acessível e resiliente face às mudanças no capital humano.
A integração de práticas de transferência de conhecimento, mais do que uma iniciativa técnica, deve ser vista como uma questão cultural. É fundamental que as empresas promovam ambientes onde perguntar não seja visto como um sinal de fraqueza, e onde partilhar seja reconhecido como um ato de liderança. A valorização da partilha deve estar enraizada nos valores e comportamentos promovidos pela liderança de topo, traduzindo-se em políticas, incentivos e práticas quotidianas.
Neste sentido, é urgente que a transferência de conhecimento seja vista como um investimento estratégico, potenciadora da integração de novos colaboradores, redutora da rotatividade e curadora da identidade organizacional. Organizações que a dominam minimizam custos, erros e mantêm alta produtividade, enquanto fortalecem a inovação, a sustentabilidade e a agilidade na decisão.
Numa era onde se exalta tanto a tecnologia como a inovação, importa lembrar que é o conhecimento humano – nas suas múltiplas formas – que continua a ser o verdadeiro alicerce de qualquer estratégia de longo prazo. O futuro das organizações dependerá, cada vez mais, da sua habilidade em respeitar o passado, capacitar o presente e construir um futuro ancorado no saber partilhado.