A palavra “Consigo” ao lado da fotografia de Luís Montenegro, em outdoors do PSD, é o atual slogan, se assim se pode designar, do PSD. É frouxo. Parece que a intenção foi que a palavra fosse entendida em duplo sentido, significando que Montenegro “consegue” e que também está “comigo”, com os cidadãos. Na Turquia, o slogan de Erdogan era “Eu consigo”. Provavelmente em turco “consigo” não tem o duplo sentido que tem em português. Seja como for, “eu consigo” é muito mais afirmativo do que apenas “consigo”.

Mas a palavra tem potencial. Há uma alternativa melhor e, essa sim, é um verdadeiro slogan com forte significado e que responde não só a uma aspiração dos portugueses como a um objetivo eleitoral do PSD: “Eu consigo unir os portugueses”. As últimas sondagens revelam que a grande maioria dos portugueses está unida em questões como o ‘sim’ à demissão de Galamba, o ‘sim’ à remodelação do Governo, o ‘não’ a eleições antecipadas, o ‘não’ à demissão do Governo.

A palavra do Presidente da República deverá ter tido um poderoso efeito influenciador e congregador de opiniões. Os números mostram que os portugueses também fizeram a sua análise política, olharam para o presente e para o futuro próximo e tiraram conclusões firmes que nada têm a ver com os aparentes “bons resultados” da economia, mas antes, como Luís Marques Mendes salientou, com o desejo de estabilidade.

“Eu consigo unir os portugueses” tem a vantagem de ser um slogan confirmador de convicções. Presta-se a declinações que respondem a questões concretas inseridas no objetivo estratégico do PSD que, suponho, será recuperar e colocar o nível de vida portugueses na mediana europeia. Escrevo suponho porque ainda não ouvi a expressão desse ou de outro objetivo claro e esperançoso. Declinações do slogan poderiam ser, por exemplo: “Eu consigo unir os portugueses para … [preencher]”.

A mensagem deve ser dirigida aos “portugueses”, a pessoas concretas de carne e osso, e não a Portugal, uma entidade de certo modo abstrata e que está em perda de capital reputacional em resultado do descalabro da administração pública em serviços essenciais, como a saúde, a educação e os transportes públicos, assim como os sucessivos escândalos e casos de corrupção, suscitando cada vez menos orgulho e até rejeição.

Entretanto, o CDS procura corrigir ou melhorar o tiro. Nuno Melo escreveu um artigo no “Expresso” cujo título revela haver um programa e é também um slogan que procura significar a doutrina política do partido: família, propriedade, liberdade. Quanto a mim, acerta em três principais motivações dos portugueses. Fazer a família feliz é o objetivo de quem casa e tem filhos e tem netos e avós. Embora continue a ser a principal preocupação de milhões de portugueses, família é uma palavra e é um conceito que foram proscritos pelas esquerdas, para quem absurdamente a ideia de família e o facto família clássica são retrógrados. Infelizmente, a IL parece seguir a mesma via.

Outra palavra malquista no vocabulário político português é “feliz” ou “felicidade”, que por acaso até está inscrita numa Constituição que emana do espírito da Revolução Francesa – a dos EUA – por razões que eu não enxergo. Propriedade tem um sentido lato. Não se aplica apenas a terra, casa, capital, empresa, propriedade intelectual, mas também àquilo que ganhamos com o nosso trabalho, em boa parte subtraído pelo Estado. É muito forte o apego à propriedade. Liberdade corresponde a um desejo que, em princípio, se considera universal.

A palavra “alternativa” vem também a propósito da sua utilização no contexto de alternativa política. Há poucas semanas, Alexandre Homem Cristo escreveu no “Observador” um interessante artigo em que perguntava se o PSD pretende ser “alternativa” ou conformar-se em ser “alternância”. Se for este o caso, o PSD não conseguirá afirmar-se como albergando as pessoas, a experiência, o projeto, a governação eficiente que mais de metade dos portugueses deseja. Seria mais do mesmo.

O PSD ainda não lutou por criar as condições para uma alternativa eleitoral, parlamentar e de governo credível, possível, ganhadora, ostentando impecáveis credenciais democráticas, com verdadeiro potencial: PSD, IL e CDS. E, de facto, este é o crux da questão: alternativa ou alternância?

Luís Marques Mendes assinala corretamente que cada palavra é importante. Eu acrescento que todo o discurso tem de ser consistente, coerente, pensado e escrito. Deve ser evitado o improviso, que é um recurso comunicacional preferível em apenas pequenas afirmações em estilo sound bite, ou para respostas bem preparadas em conferências de imprensa formais. O estilo comunicacional, a pose e a linguagem facial e corporal devem ser estudadas, definidas e praticadas. Aquilo que se designa em branding como “tom de voz”, ou seja, o conjunto de sensações que a comunicação oral, visual, gráfica, escrita, suscita tem de responder a um modelo conceptual estético e ético.

A alternativa tem de estar presente não apenas no programa político e eleitoral, mas claramente na sua expressão pública, aquela que se vê na televisão. Na chamada “economia da atenção” em que vivemos, as pessoas recordam melhor imagens do que palavras.