Após mais de uma década sob uma acentuada crise originada pelo clima político e económico que se fazia sentir, o setor da construção e do imobiliário em Portugal iniciou a sua recuperação em 2017.
Criadas as melhores expetativas para um crescimento sustentado do setor nos anos seguintes, em 2020 chegou a pandemia de Covird-19, que provocou quebras significativas na atividade económica, principalmente no segundo trimestre, em que vigorou o primeiro estado de emergência e onde foi impedida a realização de muitos negócios.
Não obstante, com os principais indicadores setoriais a mostrarem-se mais positivos do que a generalidade das estimativas, este setor tem registado uma evolução favorável, tendo inclusive sido destacado pelo Banco de Portugal pela sua resiliência e importância para a economia nacional. De facto, a construção não foi praticamente impedida de trabalhar, cumprindo as carteiras de encomendas, em detrimento de setores como o turismo, que foram fortemente condicionados.
Enquanto que a construção, incluindo serviços relacionados, se assume cada vez mais como um dos mais importantes drivers da economia portuguesa, aumentando o peso no PIB nacional, o seu crescimento está também subordinado à evolução do mercado, agora dependente da evolução da pandemia e da rapidez da vacinação em larga escala. E apesar da previsão de retoma progressiva da atividade até final de 2022, onde recuperaremos os níveis pré-pandemia, a única certeza é só uma, e que afeta diretamente a confiança dos investidores: a incerteza.
As ações de mitigação a tomar nos próximos anos são sobretudo de caráter político-económico, começando com investimento público como meio para estimular a economia e, subsequentemente, incentivar o desenvolvimento do setor privado. Para tal, tem de haver planeamento e execução, preferencialmente, ao abrigo de pactos de regime, para garantir a sustentabilidade de iniciativas como o Programa Nacional de Investimentos (PNI) 2030. Este programa representa uma oportunidade única para a engenharia e construção, nomeadamente em infraestruturas e transportes, com especial destaque para a ferrovia.
Requer contudo empresas com capacidade produtiva e recursos humanos qualificados para conseguir responder aos desafios de grandes projetos, o que, sem um esforço conjunto das organizações nacionais para ganhar escala e ultrapassar problemas estruturais e conjunturais da indústria, facilmente dará lugar a empresas estrangeiras.
O investimento privado, em especial para atrair e reter investidores estrangeiros, deve ser estimulado também com mais incentivos fiscais, principalmente agora com o fim decretado para os vistos gold no litoral e áreas metropolitanas, e maior disponibilidade de crédito para empresas e particulares, considerando o financiamento de instituições financeiras internacionais complementarmente às nacionais. O processo de licenciamento de projetos imobiliários, que foi muito afetado com a pandemia, vai requerer menos burocracia e mais capacidade administrativa dos municípios.
Destaca-se também a óbvia mas nem sempre apreendida importância de realizar investimentos produtivos, em detrimento de outros meramente convenientes, para fazer face ao previsível aumento significativo do endividamento público e privado e do risco de crédito na próxima década, que colocarão desafios acrescidos à economia portuguesa, cuja dívida já tem vindo a crescer mais rapidamente do que o PIB.
A visão sobre o futuro da construção e imobiliário é otimista, prevendo-se uma recuperação em “U”, sobretudo através de obras públicas e de projetos de edifícios residenciais, cujo desenvolvimento será estimulado mediante a disponibilização de fundos europeus e medidas de apoio às empresas. Porém, o sucesso desta recuperação está diretamente dependente de um planeamento rigoroso e da necessária estabilidade política, pelo que, perante o potencial impacto de novas medidas restritivas, torna-se fundamental decidir, de forma competente, coesa e consciente, em clima de incerteza.