A atual situação de saúde pública coloca enormes desafios no combate às desigualdades e na recuperação económica. Vivemos um momento único em que as respostas das políticas públicas obrigam a um verdadeiro diálogo e compromisso à esquerda. Um compromisso de desenvolvimento que implica fazer face às assimetrias sociais, ainda mais visíveis nos últimos meses.

A esquerda parlamentar, em conjunto, desde 2015, conseguiu inverter muitas das inevitabilidades da política portuguesa. A maior das quais o denominado “arco da governação”, onde a única força de esquerda que podia ser parte da solução política era o Partido Socialista, mas sem parceiros naturais para entendimentos, o que dificultou historicamente a governação.

Essa esquerda, que foi capaz de construir “a gerigonça”, como alguns de forma pouco séria a catalogaram, tem agora, numa altura complexa e difícil, a responsabilidade de mostrar diálogo e convergência. A geringonça que “funcionava” deve encontrar novos caminhos e desafios com igual empenho e compromisso de todos os envolvidos. A saúde, a educação, o investimento público, o ambiente e a digitalização devem ser prioridade nos dias de hoje, a par da efetiva alavancagem do crescimento económico.

A História apresenta múltiplas lições. A recuperação desta crise não pode e não deve ser feita nos moldes de uma austeridade cega, como nos tempos da troika, durante os quais o empobrecimento era o único caminho apresentado. Foram anos em que o salário mínimo não cresceu, o rendimento médio das famílias foi profundamente afetado, com congelamento de salários e a retirada de subsídios de férias e de Natal.

Este ciclo foi interrompido pelo Governo do Partido Socialista. As eleições legislativas de outubro de 2015 criaram uma maioria que permitiu derrubar muros, ortodoxias e estigmas de caso único na Europa de impossibilidade de diálogo à esquerda.

A desconfiança era mútua e fruto de uma História muito própria, que apenas em eleições presidenciais, referendos e casos pontuais em eleições autárquicas foi quebrada. Em 2015 ficou evidente que é possível mudar o sistema político português.

Nos quatro anos seguintes, e contra todas as previsões, “o diabo” não apareceu, o crescimento económico e o emprego atingiram níveis históricos. Contudo, uma situação inesperada desencadeou uma crise sanitária, económica e social sem precedentes. E a esquerda, que já demonstrou que ao contrário do que foi vaticinado, conseguiu governar com finanças públicas equilibradas, deve demonstrar que está à altura dos acontecimentos.

Os impactos económicos e sociais da pandemia vão ser profundos. É necessário continuar a salvar empregos, reabrir a economia e alavancar a recuperação de todos os setores.

Temos de garantir uma visão social, de respeito por quem trabalha, mas também por quem investe. O combate às desigualdades é central nesse percurso, onde a economia deve estar ao serviço das pessoas, assim como a transição digital e uma nova economia verde. Tudo isso só é possível com diálogo e compromisso à esquerda, ainda para mais quando o populismo e o extremismo crescem na nossa direita. É preciso construir e não destruir. E a responsabilidade está do lado da esquerda.