Uma das ‘profissões’ mais antigas do mundo é a de profeta da desgraça. Estas personagens conseguem descortinar problemas e inibições onde os mais razoáveis anteveem oportunidades e progresso.

Recentemente, uma consultora veio prognosticar a desgraça, se a banca não fizer em três anos tanto quanto fez na década anterior: fecho de um terço dos balcões e diminuição de 40% dos trabalhadores.

Teve azar, a dita consultora, porque nos dias subsequentes assistimos às apresentações dos resultados de 2020 pelos principais bancos presentes no mercado português. Apesar da pandemia e da prudência no reforço das provisões, todos apresentaram resultados positivos, conquanto em baixa. Louve-se a prudência, mas atente-se nos resultados de forma mais granular e desmonte-se a narrativa dos que querem apenas reduzir balcões e trabalhadores.

A primeira observação é que com a variação das provisões em cima dos resultados líquidos, vários bancos tiveram resultados brutos que comparam muito bem com o ano anterior à pandemia. Depois, com uma ou outra excepção, a margem financeira, em volume, subiu.

Acresce que a rendibilidade dos capitais próprios é positiva e na generalidade dos casos é de um dígito alto, bem acima do retorno das obrigações empresariais.

Um dos bancos, de direito português, mas integrado num grupo financeiro global, tem um rácio de eficiência muito abaixo do que esse grupo obtém em mercados de maturidade (Espanha ou Reino Unido) similar ao nosso e muito mais próximo do que se verifica na América do Sul.

De facto, o rácio de eficiência em Portugal compara bem com vários países de cultura ou dimensão geográfica próxima da nossa.

E enquanto os principais mercados bancários europeus reduziram um terço de balcões na década anterior, em Portugal a redução foi de quase dez pontos percentuais acima.

Em suma, redução mais rápida de balcões e trabalhadores mais baratos. De que se podem queixar os gestores dos bancos?

Talvez do rácio de transformação ser de 85%, resultante do acréscimo de poupança e das menores oportunidades de concessão de crédito, fruto da pandemia, que se espera mitigada em breve com a vacinação.

Ou de Portugal ser um país original em que a capacidade dos bancos em cobrar pelos seus serviços é limitada por lei, numa prática nos antípodas do que acontece na maioria dos países europeus. E o facto de não sermos um paraíso para lavagem de capitais, o que nos prejudica nas comparações apressadas de volume de activos por empregado bancário.

Mas isso não permite que se tome a nuvem por Juno. Importa dizê-lo bem alto: somos eficientes, de bons níveis de rendibilidade accionista e geramos resultados suficientes para fazer face aos requisitos regulatórios.

Não temos trabalhadores bancários em excesso. A mais, demasiado a mais, há na banca uma legião de trabalhadores integrados em prestadores de serviços vários, amiúde trabalhando lado a lado com trabalhadores bancários, mas sem os mesmos direitos. Tema para uma próxima reflexão.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.