… e parecemos conformados com o facto de sermos o quarto país mais desigual da UE. Temos rendimentos desiguais e abaixo da média europeia, pagamos impostos e bens essenciais como se fossemos países nórdicos, os serviços públicos de que dispomos escasseiam e os privados que nos disponibilizam vão além do que podemos pagar. E nem vou aprofundar a dimensão dos custos da habitação na pobreza, problema que exige um compromisso público e empenho político a médio /longo prazo o que, como se sabe, não se revertendo no imediato da receita eleitoralista, é uma decisão adiada, repetidamente prometida e não concretizada.
São mais de 2 milhões, as pessoas, no nosso país que vivem ou numa situação de pobreza ou em condição de exclusão social ou abaixo do limiar de pobreza, situações estas que se vêm confirmando com vários estudos e relatórios de Observatórios e outras organizações públicas desde há anos consecutivos, 2020 a 2024. Pergunta-se então: que políticas têm sido empreendidas pelos sucessivos governos para combater e (mais importante) reverter esta tendência? Capitalizam votos à custa da população empobrecida sem qualquer pudor em prometer-lhes o que não lhes ocorre sequer concretizar e até chegam a afirmar ridiculamente que “os portugueses estão piores, mas o país não” (lembram-se?). Fazem pior e ninguém os responsabiliza por tal: escondem motivações políticas nos seus programas eleitorais e uma vez eleitos desancam medidas que empobrecem ainda mais quem vive do seu trabalho: os que pagam impostos, e não têm avenças de contornos pouco éticos, nem se deixam corromper por poder e dinheiro e nem tão pouco enriquecem à custa do serviço público que deve ser toda a política!
20.1% da população a viver em Portugal está em risco de Pobreza ou Exclusão Social, manifestando-se em pobreza monetária (com rendimentos mensais inferiores a 600 euros) e/ou situações de privação material e social muito severa, com muita gente abaixo dos 65 anos a viver em agregados com atividade laboral reduzida ou precária. Mas também se tem mantido a manifestação da feminização da pobreza (em 2024, 978000 mulheres estavam na pobreza); e a pobreza de quem trabalha. Sim, somos um país de trabalhadores pobres ou a empobrecer e com dificuldades crescentes de aceder a serviços essenciais à vida, como a saúde, a educação, a habitação condigna, a fruição da cultura, serviços que constitucionalmente deveriam ser providenciados pelo Estado.
Há uma fação política (de direita, que deu o dito por não dito do “não é não”, e que já sem dissimular se tem aliado à política de natureza racista e xenófoba – e, portanto, inconstitucional!) que amiúde ataca os apoios sociais. saberá esta direita que se não houvesse ação e transferência social para os grupos mais vulneráveis da sociedade, a pobreza dispararia para os 40.3%?! E com a agravante de que sendo a própria distribuição de prestações sociais, como pensões de velhice e de sobrevivência, também desigual, sem estas a desigualdade entre Portugal e a média europeia seria ainda mais assimétrica!
E já não são só os idosos o maior foco de preocupação de pobreza. Esse foco tem-se redirecionado preocupantemente para crianças e jovens, chegando a ultrapassar a pobreza dos idosos. E não é difícil concluir sobre as causas subjacentes a esta situação: os baixos salários dos pais (em 2024 tínhamos 1,76 milhões de pobres e metade da população tinha um rendimento inferior a 903 euros); a precariedade laboral dos pais; as prestações sociais tão baixas que mal dão para comer e muito menos evitar a exclusão social; a dificuldade de manter ou aceder a uma casa; e tudo isto agravado em famílias monoparentais ou em famílias com baixos níveis de escolaridade – fenómeno que, comprovadamente, tende a arrastar-se geracionalmente renovando os ciclos de pobreza e desigualdade.
Portugal tem uma das maiores taxas de pobreza infantil na Europa! E tudo isto pode agravar-se ainda mais com as alterações ao código do trabalho do atual governo que, como que numa emboscada, sem o anunciar, nos deu o golpe quase em surdina não fosse a escolha temporal a isso propícia: a população está de férias e as notícias respingam aqui e ali, sob a capa de destaque mediático de outras parangonas que distraem a maioria dos portugueses da dimensão da pobreza e das desigualdades em Portugal.



