Na passada semana, tive oportunidade de estar presente, em Santa Maria da Feira, na iniciativa “Conversas com Fomento”, promovida pelo Banco de Fomento. Desde logo, quero sublinhar que considero extremamente relevante esta aproximação entre entidades financeiras públicas e o tecido económico local. Não se tratou apenas de mais um evento institucional, mas de um momento de diálogo, esclarecimento e reflexão, com impacto real na perceção que muitos empresários, gestores e cidadãos têm sobre o papel do Banco de Fomento e as suas linhas de apoio.

Para quem, como eu, trabalha ou acompanha o tecido empresarial, é evidente que existe ainda um grande desconhecimento sobre os instrumentos financeiros disponíveis, muitas vezes por excesso de complexidade técnica ou falta de comunicação eficaz. Este evento veio contrariar essa tendência, traduzindo linguagem técnica em mensagens claras, com exemplos práticos e casos reais.

Um dos pontos altos das “Conversas com Fomento” foi, na minha opinião, a apresentação dos novos instrumentos de apoio ao investimento e à capitalização das empresas, sobretudo no contexto do Portugal 2030 e da transição energética e digital.

O Presidente do Banco de Fomento, Gonçalo Regalado, sublinhou a importância de se pensar no financiamento não apenas como dívida, mas também através de instrumentos de capital ou quase-capital, algo que muitos empresários portugueses ainda encaram com alguma desconfiança ou desconhecimento. Essa mudança de mentalidade é fundamental para garantir que as empresas não apenas sobrevivem, mas crescem de forma sustentável.

Outro aspeto que me impressionou foi a abertura ao diálogo. Várias intervenções expuseram preocupações muito concretas: desde as dificuldades de acesso ao crédito por parte das pequenas empresas, aos temas de enormíssimo excesso fiscal, e, também, as exigências burocráticas que frequentemente se tornam obstáculos quase intransponíveis para quem está focado no dia a dia da gestão. Não houve respostas mágicas, mas houve compromisso do Governo em simplificar processos e, sobretudo, em ouvir quem está no terreno. Para mim, isso é o maior sinal de maturidade institucional.

Gostaria também de destacar a abordagem às questões da sustentabilidade. O Banco de Fomento, nas várias intervenções, frisou, e bem, que os apoios futuros terão cada vez mais este foco. Seja através da eficiência energética, da descarbonização ou da digitalização de processos, ficou claro que quem não acompanhar esta tendência poderá perder competitividade — não apenas por pressão regulatória, mas também porque o mercado e os consumidores estão a mudar.

A mim, enquanto participante, pareceu-me essencial que se discuta não só o acesso a fundos, mas também o suporte técnico e formativo às empresas, para garantir que estas sabem como investir de forma sustentável.

Para além do conteúdo técnico, saí das “Conversas com Fomento” com a sensação de que há vontade política e institucional efetiva para aproximar as políticas públicas do cidadão e do empresário comum. No entanto, é inevitável sublinhar que ainda existe um longo caminho a percorrer. A burocracia continua a ser um entrave, sobretudo para micro e pequenas empresas, muitas vezes sem estrutura para lidar com processos complexos. Da parte do Banco de Fomento, senti vontade de simplificar — mas a realidade, muitas vezes, é mais difícil de alterar, até pelo quadro legal e regulatório que condiciona a atuação destas entidades.

Em síntese, considero que iniciativas como esta são fundamentais para aproximar o Estado da economia real. Há uma perceção generalizada de que os instrumentos de apoio existem, mas não chegam, na prática, às empresas que deles mais necessitam.

As “Conversas com Fomento” provaram que é possível criar pontes, esclarecer dúvidas e, sobretudo, ouvir quem está no terreno. Espero que esta seja apenas a primeira de muitas edições, pois Portugal só tem a ganhar se o diálogo entre entidades públicas e privadas se tornar mais próximo, mais transparente e mais eficaz.