O coronavírus está a ser um teste à nossa capacidade de resposta a ameaças, em todos os sentidos: como nos organizamos; como nos comportamos; do nosso sentido de responsabilidade e solidariedade; como ficamos de cabeça fria ou disparatamos; como reagimos à frustração por alterar planos; e como passamos a informação ou ajudamos a espalhar boatos. Em geral, as reações têm sido boas, mas há quem tenha disparatado em alto grau.

Uma noiva desabafou no Facebook que, com o casamento a um mês de distância, não desistia da cerimónia. Já tinha gasto milhares de dólares em todo o tipo de arranjos, desde fazer exercício para ficar fit a desarmadilhar as “minas” da família e conseguir ter toda a gente presente, a contratar espaço e catering, e tinha-se embebedado na banheira para celebrar, portanto, quem faltasse ao casamento iria estar morto para ela. Foi criticada pelo exagero, claro.

Em Ewing, Nova Jérsia, a polícia prendeu Wade Jackson, de 47 anos, que deu uma “corona party” juntando 47 pessoas no seu apartamento de 50 metros quadrados, em clara violação da lei. Segue-se a multa que o Governador Murphy ameaça ser pesada: é a lei de Murphy.

Para manter as pessoas à distância e evitar o contágio, um homem apareceu no mercado de Testaccio, em Roma, no dia 6 de março, com um disco de um metro de raio à volta da cintura. As perguntas são muitas: como vai à casa de banho? Como passa pelas portas? Não é melhor fazer de conta que espirra? Houve até quem perguntasse por que razão os realizadores dos “Walking Dead” não se lembraram disto…

Em Hong-Kong, os restaurantes deixaram de servir quem vinha da China continental, enquanto os londrinos fugiam para Gales. Em Kumamoto, no Japão, o presidente da câmara desabafou no Twitter: “Corona you suck!”.

Houve quem tentasse passar responsabilidades, e os teóricos da conspiração ajudaram. Lin Songtian, embaixador chinês na África do Sul, disse que era uma arma biológica da CIA, na linha da propaganda soviética que atribuía à CIA a criação da SIDA. A infidemia (epidemia de desinformação) teve danos colaterais: 38% dos americanos apreciadores de cerveja deixou de beber Corona por causa do nome.

Depois, há quem diga que as ondas do 5G matam o vírus. O meu amigo Zé, que ouviu falar das virtudes desinfetantes do álcool, bebe uísque todos os dias. Também houve quem acreditasse que a ameaça era infundada, como Trump, para quem era pouco mais que uma constipação e desapareceria depressa. Levou a dizerem que foi uma invenção dos Democratas para o fazerem perder as eleições.

Agora, notável é a estratégia britânica para a pandemia, a “imunização geral”. Como estavam longe do pico, é deixar a doença espalhar para as pessoas serem contagiadas e criarem imunização antes dos hospitais estarem cheios de doentes. A imunização evitaria um pico que colapsasse o sistema de saúde britânico. Resultado: Boris Johnson e o ministro da Saúde estão infetados. Vamos ver se aprendem algo.