1. Os fenómenos naturais que têm assolado o país são bastante normais nesta altura do ano se nos lembrarmos do que se passou em décadas anteriores, e sem nos esquecermos das dramáticas cheias no período do Estado Novo, com destaque para os anos 60 e 70.

Mas o mais relevante das mais recentes catástrofes é que revelaram um governo completamente à deriva e um primeiro-ministro (PM) com tendência para ignorar os acontecimentos. Primeiro, esteve completamente ausente das intervenções que o presidente da edilidade de Lisboa, Carlos Moedas, foi fazendo juntamente com a Proteção Civil e também com a participação do Presidente da Rpública; depois, com declarações erráticas e algo impróprias sobre o que se passou nas cheias e o facto de ter tido a sua garagem inundada e não ter recebido um telefonema do autarca de Lisboa.

Foram declarações e atitudes nas quais o PM se revelou. Aliás, tudo o que está na entrevista à revista “Visão” mostra um PM com tiques de despotismo, autoconvencimento e um grande alheamento da realidade: os portugueses passam dificuldades, o país não prospera e o Estado da economia está em estagnação.

Apesar de tudo isto, o PM prefere atacar o autarca da capital porque sabe bem que é dali que poderá vir o grande adversário para o futuro, sobretudo, para aquele que vier a ser o seu sucessor à frente do Partido Socialista. Carlos Moedas foi marcado por António Costa como o potencial adversário do PS do futuro ou, pelo menos, aquele que os socialistas mais temem.

Pelo meio, um pedido de desculpa expresso do PM ao autarca… numa altura em que Luís Montenegro anda pelo país numa digressão já aqui abordada e sem quaisquer resultados práticos do ponto de vista mediático e de aproximação ao país real. Montenegro resolveu lançar, entre visitas a vários distritos, um referendo à eutanásia, o que lhe valeu um afastamento – que deve ser definitivo – do ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.

Passos Coelho foi liminar num artigo que escreveu para o jornal “Observador” e deixou várias farpas à atual liderança do PSD, criticando a proposta de referendo e, com isso a postura de Montenegro. Assim, enquanto Luís Montenegro perdeu o capital político junto de Passos e dos passistas, Moedas, que tem em Lisboa piscado várias vezes o olho à esquerda, vê António Costa recuar, desculpar-se e, com isto, lançá-lo para o futuro da liderança da oposição em Portugal.

2. A inflação dos bens alimentares em Portugal está imparável. É bem possível que em 2023 se assista a um abrandamento desta escalada, mas os efeitos vão perdurar, segundo todos os analistas. Isto significa um tremendo recuo no poder de compra dos mais desfavorecidos e da classe média.

Dar cheques avulsos é bom no momento e permite pagar contas, mas esgota-se nesse mesmo instante. Pelo contrário, as eventuais mexidas em impostos críticos como o IVA em produtos do cabaz alimentar essencial, tenderia a suavizar o esforço de todos, até porque as dificuldades económicas apenas têm poupado uma infinita minoria.

E, já agora, faz todo o sentido o imposto sobre lucros extraordinários em determinadas áreas, caso do retalho. O impacto sobre os grandes retalhistas é um aviso, muito embora a receita para o erário público seja reduzida.