São medidas despercebidas mas altamente eficazes. E são medidas eleitoralistas que acontecem uns meses depois de uma vitória com maioria absoluta. Falamos da possibilidade de as empreitadas poderem ser revistas até final do ano e que fez capa na edição do “Público”.
Mais concretamente, o Governo está a criar um regime excecional e temporário que visa contrariar o impacto da inflação e da subida dos preços dos materiais de construção civil. As construtoras vão poder fazer uma revisão extraordinária de preço desde que as matérias-primas e mão de obra subam 20% ou mais.
São medidas que têm sentido na lógica de António Costa se estar a preparar para Bruxelas e que, no final, são medidas que visam dar aos eventuais sucessores trunfos para uma eventual vitória sobre o PSD e a direita.
Esta medida, em concreto, põe as empresas ao lado do Governo, embora vá deixar o Estado com algumas dificuldades de tesouraria.
Há dois anos e meio que as grandes e médias construtoras se viam a braços com o aumento de preço dos fornecedores por força do aumento dos preços das matérias-primas. Com esta medida, o Governo vai colocar do seu lado os grandes empregadores que são as grandes construtoras e os fornecedores.
Falamos de milhares de postos de trabalho e de algumas dezenas de empresas poderosas que reclamavam de dificuldades para construir, nomeadamente obras que o Estado atribuiu em concorrência direta com empresas estrangeiras, sobretudo espanholas.
Costa dá-lhes a mão e coloca um dos seus potenciais sucessores, Pedro Nuno Santos, a liderar o processo. Ao mesmo tempo, está a dar protagonismo a Mariana Vieira da Silva noutras matérias que, como a gestão das verbas do PRR, que recentemente beneficiou Portugal com uma revisão em alta de fundos, com mais 1600 milhões de euros.
Outro dos jovens turcos, Ana Catarina Mendes, tomou a dianteira no caso da Câmara de Setúbal e, num outro plano, Fernando Medina fala com total autonomia sobre as matérias fiscais, sem se ver da parte do primeiro-ministro qualquer tipo de correção. Medina está todo-poderoso nas Finanças.
Costa distribui, assim, jogo pelos peões e passa dois, três dias em Bruxelas, como aconteceu recentemente no encerramento da Convenção sobre o Futuro da Europa. Um projeto que pretende repensar as matérias europeias e que demorou um ano a ser concluído, colocando vários países do lado de António Costa contra uma revisão mais profunda dos tratados europeus.
Macron acabou por ser o grande destaque desta conferência, mas, num segundo plano e num plano muito elevado, António Costa não conseguia esconder o entusiasmo por se movimentar na alta esfera europeia.