Em setembro Vladislav Sinitsa foi condenado por um tribunal em Moscovo a cinco anos de prisão por causa de um tweet: o tribunal considerou que o dito incitava à violência e ao extremismo, e continha ameaças contra as forças de segurança.
Imaginem o que seria prender alguém nos EUA por escrever tweets. O presidente Trump mal teria tempo de carregar na tecla de “enviar”, atendendo ao ritmo frenético que põe na coisa. Isto para não falar de ameaçar, coisa em que Trump excela, junto com denegrir alguém – só há uma pessoa de que ele não fala mal, que é ele próprio. Mas voltando a Sinitsa, o verdadeiro crime que ele cometeu é ser um blogger e fazer campanha contra Putin, coisa que não tem perdão naquele país.
Sobre o tweet em si, que não foi mais que um pretexto, Alexey Navalny, o mais popular opositor a Putin, disse que era estúpido e a lei não defende contra a estupidez. A lei na Rússia não defende contra grande coisa, a atender ao número de opositores que foram presos nos últimos tempos, sobretudo porque os níveis de apoio ao governo nunca estiveram tão baixo. Todas as razões são boas para engavetar alguém, todos os motivos são bons para intimidar e calar quem está contra.
Este não foi um caso único. Outro caso bizarro deu-se há dois anos atrás, quando um homem foi acusado de terrorismo e preso por ensinar ioga. A lei antiterrorismo russa permite acusar alguém por pertencer a um grupo religioso, portanto é só invocar tal coisa et voilá, está feito. É só elevar a prática de ioga a religião e Demitry Ugay, um informático que falava de ioga num festival de S. Petersburgo, malhou com os costados na prisão. A mesma lei já pôs na prisão um adepto do Hare Krishna que distribuía folhetos e levou a multar e confiscar 36 Bíblias ao Exército da Salvação.
No pró-russo Cazaquistão as coisas são semelhantes: Sanat Dosov, um ativista, “apanhou” com três anos de prisão por se referir a Putin como “fascista” e exibir uma imagem com ele ao lado de Lenine e Estaline.
Claro que do lado de cá da cortina de latão também há imbecilidades destas, mas são só isso, imbecilidades. Jacob Jock, jurado num caso num tribunal da Florida, levou com três dias de prisão por enviar um pedido de amizade no Facebook à acusada; o mimo da história é que foi a própria acusada que o denunciou.
Kelly Williams-Bolar, do Ohio, teve direito a dez dias de prisão por mentir sobre a freguesia em que morava para poder inscrever os filhos noutra escola. Mas comparem lá isto a Pyotr Pavlensky, que se pregou (pelo sítio mais doloroso) no chão da Praça Vermelha para poder protestar contra “a Rússia se ter tornado um estado policial” sem ser levado preso. Eu queria ver algum dos nossos deputados “protestantes” fazer uma destas, que assim ainda me convencia que estão a falar a sério.