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Covid-19 coloca à prova a logística das farmacêuticas

Pandemia expôs as fragilidades das cadeias de abastecimento do sector e está a colocar à prova a capacidade de entregar os medicamentos a quem deles precisa. No caso das vacinas contra a Covid-19, o desafio será fazê-las chegar a milhares de milhões de pessoas em todo o mundo, em tempo útil.
28 Fevereiro 2021, 19h00

A pandemia de Covid-19 provocou uma crise sanitária e económica a nível global que está a pôr à prova as cadeias de logística de todos os sectores de atividade e a indústria farmacêutica não é exceção. Medidas como o fecho das fronteiras e o confinamento colocaram a nu as fragilidades das cadeias de abastecimento das farmacêuticas e estão a pôr à prova a sua capacidade de fazer chegar os medicamentos a quem deles precisa.

Esta nova realidade faz-se sentir não só no que diz respeito às novas vacinas contra a Covid-19 como também aos restantes produtos e medicamentos.

“A covid-19 teve um impacto enorme na nossa operação, de forma transversal (…). A dependência extrema de um fornecedor, já ensinava isso o professor Porter, é uma fraqueza estratégica que tem de ser resolvida. Que é o que acontece com os medicamentos, nomeadamente os de menor valor acrescentado”, defendeu recentemente o diretor geral da Jaba Recordati Portugal, Nelson Pires, em declarações à revista “Marketing Farmacêutico”.

“A Europa não pode estar dependente de dois países para fabricar os seus medicamentos que são administrados em grande escala, sem alternativa de fabrico”, acrescentou Nelson Pires.

Esta opinião do diretor geral da Jaba Recordati Portugal é partilhada por outros responsáveis da indústria ouvidos pelo Jornal Económico, que frisaram a necessidade de as empresas do sector conseguir adaptar-se às novas circunstâncias, com medidas como o reforço dos stocks, de maneira a poder face face aos períodos de confinamento. A aposta crescente em soluções de inteligência artificial para melhorar a rastreabilidade dos medicamentos é outro caminho que o sector tem vindo a seguir.

No caso das vacinas contra a Covid-19, que a indústria conseguiu desenvolver e colocar no mercado em tempo recorde, o grande desafio que se segue é conseguir fazer chegar as doses a tempo e horas, e em boas condições, a milhares de milhões de pessoas.

“Os principais desafios passaram por garantir a disponibilidade de matérias primas e fornecedores, gerir a nossa capacidade de produção no sentido de alocar quatro unidades fabris da Pfizer (e uma fábrica da BioNTech) e preparar antecipadamente a nossa cadeia de distribuição, de forma a que após a aprovação estivéssemos em condições de rapidamente começar a entregar as vacinas aos diferentes países”, disse o diretor-geral da Pfizer Portugal, Paulo Teixeira. A farmacêutica norte-americana espera entregar dois mil milhões de doses de vacinas durante o ano de 2021.

Já a Moderna espera fornecer entre 500 milhões a 600 milhões de doses até ao final deste ano, com a farmacêutica a garantir que “continua a investir e a contratar” com o objetivo de “poder potencialmente produzir até mil milhões de doses em 2021”.

“A Moderna está a trabalhar com os seus parceiros em toda a Europa para fabricar, distribuir a vacina Covid-19 Moderna a pessoas em todo o mundo, menos de um ano após o início desta pandemia. O fabrico de vacinas é um processo altamente complexo. Em circunstâncias normais, pode levar três a quatro anos a preparar-se para o lançamento industrial de uma vacina”, explica fonte oficial da farmacêutica norte-americana.

A Sanofi Pasteur destaca que um dos desafios para toda a indústria farmacêutica foi “aumentar a capacidade de produção à escala global”.

A farmacêutica francesa diz que tem vindo a aumentar a sua “capacidade de produção de vacinas” para poder “entregar rapidamente grandes quantidades de futuras vacinas para responder à necessidade global, nomeadamente através do investimento de 610 milhões de euros que foi feito para criar um novo local de produção e um centro de investigação em França, ambos dedicados a vacinas”, segundo a diretora-geral em Portugal, Helena Freitas.

A portuguesa GenIbet, por sua vez, destaca que o custo é um “fator muito importante a ter em conta quando desenvolvemos vacinas. A necessidade é vacinar a população no mundo. Por tudo isto é positivo, mas também muito desafiante, ter vacinas que utilizam tecnologias diferentes, é importante ter alternativas. É um esforço comum com desafios globais a vários níveis. Num curto espaço de tempo deparamo-nos com a necessidade de quantidades significativas de matérias-primas que utilizamos na produção das vacinas, de vidro para milhões de frascos, ou gelo seco para a distribuição. Há muitas frentes a trabalhar a grande velocidade”.

Artigo publicado num especial do Jornal Económico de 05-02-2021

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