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Covid-19: Especialista adverte que fim do confinamento rígido pode exponenciar aumento da variante britânica

Epidemiologista João Paulo Gomes, do Instituto Ricardo Jorge, defende que bloqueio aos processos de transmissão secundária impediram que a variante do Reino Unido atingisse uma prevalência tão elevada quanto se temia. Até agora os casos detetados das variantes da África do Sul e de Manaus continuam muito reduzidos.
22 Fevereiro 2021, 15h49

A variante britânica do SARS-CoV-2, cuja prevalência em Portugal está a ser mais reduzida do que os especialistas temiam, poderá voltar a ter um crescimento exponencial se for levantado o confinamento, alertou o epidemiologista João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Pública Ricardo Jorge, na XVI sessão de apresentação da Situação Epidemiológica da Covid-19 em Portugal, realizada nesta segunda-feira no auditório do Infarmed, em Lisboa.

Numa apresentação dedicada à vigilância das variantes genéticas do novo coronavírus, João Paulo Gomes revelou que após uma quase duplicação semanal da percentagem da variante britânica entre a totalidade de doentes com Covid-19 detetados em Portugal, esse crescimento desceu para entre 4 a 10% nas duas últimas semanas, o que considera dever-se ao “confinamento rígido” imposto pelo Governo desde janeiro.

“Não é fácil de explicar. Seria expectável que, apesar do confinamento, uma variante com maior transmissibilidade continuasse a ter a sua prevalência a aumentar. Mas observamos um planalto”, disse o epidemiologista do Instituto Ricardo Jorge, avançando com a hipótese de que “tenhamos bloqueado todos os processos de transmissão secundária”. Algo que, como realçou na apresentação, “só é válido perante um confinamento muito rígido”.

Isto porque mesmo sem um aumento da variante britânica comparável ao verificado no próprio Reino Unido, na Irlanda e na Dinamarca, onde entre 70 e 90% dos casos de Covid-19 lhe estão associados, os quase 48% de casos em Portugal garantem que esta não irá desaparecer. “É mais do que natural que haja um crescimento exponencial quando desconfinarmos”, advertiu.

Apontando para a necessidade de obter um equilíbrio entre o processo de desconfinamento e a imunidade de grupo, conseguido através da vacinação massiva e das centenas de milhares de portugueses já infetados e que ganharam anticorpos, João Paulo Gomes realçou que a variante britânica não tem “diferenças relevantes a nível estatístico” no que toca às faixas etárias.

Melhores notícias ocorrem quanto a outras duas variantes do SARS-CoV-2, pois a da África do Sul continua limitada a quatro casos, sem novas comunicações nas últimas semanas, enquanto a de Manaus foi verificada em sete infetados, mas todos pertencentes à mesma cadeia de transmissão.

João Paulo Gomes disse ainda que haverá uma modificação da estratégia em março, procurando-se passar a ter rastreios semanais de casos suspeitos de serem provocados por variantes genéticas do SARS-CoV-2. E alertou para a possibilidade de a vacinação ser menos eficaz no combate a essas variantes.

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