A variante britânica do SARS-CoV-2, cuja prevalência em Portugal está a ser mais reduzida do que os especialistas temiam, poderá voltar a ter um crescimento exponencial se for levantado o confinamento, alertou o epidemiologista João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Pública Ricardo Jorge, na XVI sessão de apresentação da Situação Epidemiológica da Covid-19 em Portugal, realizada nesta segunda-feira no auditório do Infarmed, em Lisboa.
Numa apresentação dedicada à vigilância das variantes genéticas do novo coronavírus, João Paulo Gomes revelou que após uma quase duplicação semanal da percentagem da variante britânica entre a totalidade de doentes com Covid-19 detetados em Portugal, esse crescimento desceu para entre 4 a 10% nas duas últimas semanas, o que considera dever-se ao “confinamento rígido” imposto pelo Governo desde janeiro.
“Não é fácil de explicar. Seria expectável que, apesar do confinamento, uma variante com maior transmissibilidade continuasse a ter a sua prevalência a aumentar. Mas observamos um planalto”, disse o epidemiologista do Instituto Ricardo Jorge, avançando com a hipótese de que “tenhamos bloqueado todos os processos de transmissão secundária”. Algo que, como realçou na apresentação, “só é válido perante um confinamento muito rígido”.
Isto porque mesmo sem um aumento da variante britânica comparável ao verificado no próprio Reino Unido, na Irlanda e na Dinamarca, onde entre 70 e 90% dos casos de Covid-19 lhe estão associados, os quase 48% de casos em Portugal garantem que esta não irá desaparecer. “É mais do que natural que haja um crescimento exponencial quando desconfinarmos”, advertiu.
Apontando para a necessidade de obter um equilíbrio entre o processo de desconfinamento e a imunidade de grupo, conseguido através da vacinação massiva e das centenas de milhares de portugueses já infetados e que ganharam anticorpos, João Paulo Gomes realçou que a variante britânica não tem “diferenças relevantes a nível estatístico” no que toca às faixas etárias.
Melhores notícias ocorrem quanto a outras duas variantes do SARS-CoV-2, pois a da África do Sul continua limitada a quatro casos, sem novas comunicações nas últimas semanas, enquanto a de Manaus foi verificada em sete infetados, mas todos pertencentes à mesma cadeia de transmissão.
João Paulo Gomes disse ainda que haverá uma modificação da estratégia em março, procurando-se passar a ter rastreios semanais de casos suspeitos de serem provocados por variantes genéticas do SARS-CoV-2. E alertou para a possibilidade de a vacinação ser menos eficaz no combate a essas variantes.
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