Mudança de comportamentos exige novas configurações
Em apenas alguns meses, a Covid-19 alterou significativamente a indústria imobiliária global. Como é normal para um evento extraordinário como uma pandemia, o sector não estava à espera ou preparado. Mas não será exagero descrever a pandemia como um choque que está a alterar o que os ocupantes querem dos espaços – um ponto de inflexão que mudará a indústria para sempre.
Pela sua natureza, o imobiliário não está habituado a rápidas mudanças disruptivas. Os edifícios não se prestam à dinâmica da inovação da mesma forma que o software ou um modelo de negócio de comércio eletrónico. No entanto, a crise está a comprimir tendências plurianuais que já estavam em curso em apenas alguns meses. A crise está a redefinir a forma como pensamos os espaços, minando as verdades básicas do setor, como a segurança dos rendimentos e a estabilidade das avaliações.
Neste contexto, embora as empresas imobiliárias tenham de resolver os desafios de hoje, devem também concentrar-se nas mudanças mais duradouras – comportamentais, geopolíticas, macroeconómicas e tecnológicas – que resultarão da crise.
À medida que a pandemia conduz a mudanças duradouras na forma como as pessoas querem viver e trabalhar, há implicações a longo prazo para o sector residencial.
Mudanças significativas de estilo de vida a longo prazo são prováveis. O trabalho remoto pode tornar-se o novo normal para muitos funcionários, levando ao “êxodo urbano” onde os inquilinos se mudam para os subúrbios para terem acesso a mais espaço e a rendas mais baixas. Tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, o apelo das megacidades parece estar a diminuir.
O futuro do “co-living” já não parece tão claro. Mesmo quando uma vacina venha a ser descoberta, as pessoas podem já não querer viver perto de outras pessoas que não sejam das suas famílias ou grupos de amizade.
Relativamente a áreas mais específicas, espera-se que o alojamento estudantil sofra uma diminuição da procura em algumas cidades. Se o ensino virtual se mantiver a longo prazo, a procura de alojamento estudantil poderá não voltar a ser tão elevada.
E a crise de saúde em lares de terceira idade em todo o mundo pode levar a um aumento dos idosos que vivem mais tempo em casa com familiares. Ou, pelo menos, os lares de terceira idade podem ter de ser reconfigurados para proteger os residentes de futuros surtos de doenças.
Em conjunto, estes temas são suscetíveis de levar investidores e promotores a repensar a sua estratégia de longo prazo para o negócio imobiliário e suas classes de ativos associadas.