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Covid-19: Quatro fundações e três empresas ‘fabricam’ ventilador ‘made in Portugal’

As Fundações EDP, REN, Gulbenkian e La Caixa/BPI têm liderado o apoio financeiro a este projeto coordenado pelo CEiiA – Centro de Engenharia para o Desenvolvimento de Produto e pela Escola de Medicina da Universidade do Minho. Empresas como o Grupo Sonae, Efacec e Medinfar estão também envolvidas no fabrico do ventilador ‘Atena’.
13 Abril 2020, 17h51

O projeto do ventilador Atena, made in Portugal, está a receber o apoio financeiro de quatro fundações, além de contar com o envolvimento, para já, de três grupos empresariais nacionais, da coordenação do CEiiA – Centro de Engenharia para o Desenvolvimento de Produto e da Escola de Medicina da Universidade do Minho.

O ventilador ‘Atena’, que deverá entrar em fase de testes nas unidades hospitalares nacionais já para a próxima semana, está a contar com o apoio financeiro de quatro fundações: a Fundação EDP, Fundação REN, Fundação La Caixa/BPI e Fundação Calouste Gulbenkian.

Em paralelo, o projeto conta também com o envolvimento do sourcing do Grupo Sonae, para a aquisição de componentes nos mercados internacionais para o fabrico dos ventiladores, assim como da Efacec e da farmacêutica Medinfar.

“Neste momento, todos os testes que nós fizemos – e são muitos, as pessoas às vezes não têm noção do número de testes [necessário] para cumprir os requisitos definidos pelo Infarmed e pelas entidades certificadoras que têm de ser feitos em bancada – e já se deu início ao processo para fazer testes em ambiente hospitalar, o que acontecerá na próxima semana”, disse hoje, dia 13 de abril, Miguel Braga, da direção do CEiiA, em entrevista à RTP1.

Nessa mesma entrevista, Miguel Braga garantiu que “todos os procedimentos com o Hospital de Santo António e com a Escola Médica da Universidade do Minho foram já lançados para termos as devidas autorizações para realizar esses testes em doentes para a totalidade das funcionalidades e dos requisitos funcionais de um ventilador”.

“O ventilador ‘Atena’ pretende cumprir todas as funcionalidades em UCI – Unidades de Cuidados Intensivos e, portanto, os mesmos requisitos que tem um ventilador tradicional, que faz falta, que vai fazendo falta no país e no mundo”, assinalou Miguel Braga, acrescentando que “o projeto ‘Atena’ é mais do que produzir 100 ventiladores no final do mês de abril, início do mês de maio”.

Recorde-se que o projeto coordenado pelo CEiiA pretende produzir uma centena de ventiladores no prazo indicado, mais 400 até ao final do mês de maio, e depois um total de dez mil unidades ao longo de todo o ano de 2020.

Segundo Miguel Braga, o projeto ‘Atena’ “é um projeto industrial para o país”. “Nós achamos, e acho que vamos lendo em todo o lado essa mesma mensagem, que Portugal tem de ser menos dependente do exterior daqui para a frente. E, portanto, o que nós pretendemos é que Portugal tenha a capacidade de produzir um ventilador totalmente nacional e por isso é que os primeiros 100 ventiladores vão ser produzidos no contexto CEiiA. As 400 unidades que pretendemos produzir até ao final do mês de maio, no contexto CEiiA com mais dois ou três parceiros industriais. E, então, a partir daí, temos uma industrialização em massa”, explicou este responsável na referida entrevista à RTP1.

“Temos tido o privilégio de receber dezenas de contributos, de pedidos e de disponibilidades para ajudar, de indústrias, de empresas, algumas muito pequenas, algumas de nicho. Portanto, o que se pretende é que isto seja um projeto nacional e que também seja em si mesmo um projeto de reorientação de alguma produção nacional e que alguma indústria, que vai ter um impacto seríissimo, agarre o produto e desenvolva”, defendeu o administrador do CEiiA.

De acordo com este responsável, “a Efacec tem estado a trabalhar connosco, a Medinfar a mesma coisa”. “Mas o que queremos é que seja o mais possível agregador da indústria nacional, Por isso é nós falamos em chegar às 10 mil unidades até ao final do ano de 2020. Como deve imaginar, sem uma rede de industrialização bem preparada, não conseguiríamos chegar a esse número”, revelou Miguel Braga.

Questionado sobre o preço final do ventilador ‘Atena’, o administrador do CEiiA explicou: “o nosso objetivo, e nós estamos a trabalhar com orçamento ‘ongoing’, diria assim, porque o mercado de componentes que integra o ventilador está muito saturado e, portanto os próprios preços dos componentes vão variando no mercado internacional, mas temos desde o início um ‘target’ para que custe 10 mil dólares, o que é manifestamente inferior àquele que já era o valor de um ventilador com estas características antes da pandemia e que, hoje, no mercado, atinge 30 mil, 35 mil, 40 mil dólares por ventilador”.

“O CEiiA não decidirá sobre o destino de nenhum desses ventiladores. O CEiiA tem tido desde o início dois apoios fundamentais: o apoio do Estado, o apoio do Governo, o apoio do Ministério da Economia, o apoio do Ministério da Ciência, o Primeiro-ministro esteve a conhecer o projeto na sua origem e, portanto, obviamente, o SNS – Serviço Nacional de Saúde será o destino prioritário e o SNS decidirá para que hospitais o ventilador é atribuído; e, simultaneamente, um conjunto de quatro grandes grupos económicos em Portugal: a EDP, a REN, a Fundação La Caixa e a Fundação Gulbenkian, que têm somado, eu diria que tomaram inclusivamente a liderança do apoio financeiro a este projeto e, portanto, caberá também a estes mecenas decidirem para onde irão esses ventiladores”, revelou Miguel Braga na entrevista em questão.

No entender deste responsável, “o CEiiA desenvolve equipamentos muito complexos há muito tempo, em indústrias altamente exigentes de capacidade de engenharia, de capacidade eletrónica, de capacidade de prototipagem”. Mas “esta é uma área nova do CEiiA e, portanto, toda a ajuda dos médicos foi perfeitamente fundamental; acho que há uma frase que define este ventilador: no início do processo, o que o CEiiA fez foi colocar uma equipa de 300 engenheiros disponíveis no CEiiA ao serviço de uma comunidade médica, e não o inverso, que connosco construíram as especificações, que connosco construíram os requisitos e que connosco têm estado todos os dias”.

Questionado sobre a possibilidade de se estar a fabricar ventiladores que depois serão excedentários em relação à procura, Miguel Braga respondeu que “os ventiladroes serão sempre necessários”.

“Esta pandemia vai-se prolongar, esta pandemia vai chegar a países onde não está a chegar ainda em força e tememos, obviamente, o pior, conhecendo esses países, designadamente em África, designadamente na América do Sul, e, portanto, a nossa vontade é que Portugal tenha um ventilador ‘made in Portugal, passando a expressão, e possa, inclusivamente, ser utilizado, não só no combate à pandemia, mas, por exemplo, em instrumentos de cooperação que Portugal estará certamente disponível a implementar”, revelou o administrador do CEiiA.

Miguel Braga admitiu ainda a hipótese de os ventiladores ‘Atena’ poderem vir a ser exportados.

Além da versão inicial do ‘Atena’, cujo início de produção ocorreu há cerca de três semanas, estão já ser preparados mais dois ‘upgrades’ de ventiladores nacionais para entrar em linha de produção, com melhorias ao nível técnico e de ‘design’.

Na referida reportagem, a RTP1 transmitiu um testemunho do presidente da Fundação EDP. “Portugal precisa de capacidade, autónoma, estratégia de resposta rápida aos desejos da nossa sociedade e, em particular de vocês. Quem está de parabéns são vocês”, assinalou António Mexia.

 

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