Cristiano Ronaldo (CR7) representa dedicação, coragem, ambição, disciplina, caridade, compaixão, família e sucesso. É a única marca portuguesa global, e não hesita em associar-se a empresas portuguesas aportando essa notoriedade global a hotéis e porcelanas.

O impacto CR7 nas contas da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) deve ser impressionante. O impacto no reconhecimento do futebol português e da selecção nacional é, provavelmente, inestimável. Proporcionou a Portugal e aos portugueses incontáveis alegrias. Tudo isso lhe devemos.

Ora, existe um paralelismo interessante com as empresas familiares. O líder da família que geralmente funda a empresa, ou é responsável pela aceleração do seu sucesso, representa muitas vezes os mesmos valores e princípios que CR7, repito: dedicação, coragem, ambição, disciplina, caridade, compaixão, família e sucesso.

Um pouco como CR7, os líderes de empresas familiares têm um impacto impressionante nas suas comunidades de origem, e são verdadeiros heróis para muitas famílias. Todos conhecemos exemplos. Mas também, tal como CR7, muitos destes líderes sofrem de uma incapacidade, a de saber “passar o testemunho”, impactando negativamente o desempenho da empresa e as futuras gerações da família.

A incapacidade de reconhecer que, provavelmente, já não serão a pessoa indicada para a liderança executiva da empresa, leva, muitas vezes, a decisões pobres ou pouco atempadas. Uma análise fria sugere que CR7 deveria ter sido mais bem aconselhado e preparado a sua “sucessão”. Quiçá jogar as segundas partes e ter um papel mais visível na liderança do balneário, e até como face externa da equipa, protegendo-a.

Confesso que não deve ser nada fácil deixar de ser relevante da forma a que se está habituado, perder estatuto, mudar de papel – e, no caso de CR7, que passou a vida a dizer a si mesmo que era capaz de tudo (e era mesmo!), admitir que o corpo já não obedece, deve ser violento para a mente. A prova de que o sucesso de CR7 era muito a sua extraordinária mentalidade. Como diria Dorothy Leonard-Barthon, a sua capacidade nuclear, transformou-se na sua rigidez nuclear: a mentalidade que fez dele o melhor do mundo é hoje um passivo para CR7, fonte de frustração e crítica.

Muitos líderes de empresas familiares passam por “momentos CR7” e sofrem muito com as incertezas da sucessão e da passagem de “testemunho”. A sua identidade está tão inexoravelmente ligada ao papel de líder da empresa, que a fase de transição exige aconselhamento experiente e treinado.

A FPF, o seleccionador, a família, amigos e colegas só ajudaram a que CR7 não fosse capaz de mudar de abordagem. Uns por acção, outros por omissão.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.