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‘Crash’ dos bancos é “altamente provável” se a crise continuar em 2021, diz a EconPol Europe

Especialistas da European Network for Economic and Fiscal Policy Research alertam para o risco de as regras prudenciais não serem suficientes para evitar um ‘crash’ bancário na Europa com a crise da Covid-19. “O quadro prudencial não foi projetado para lidar com uma crise desta natureza e o mecanismo de resolução exigirá recursos adicionais se a crise bancária não puder ser evitada”, dizem.
17 Junho 2020, 23h42

Um “crash” dos bancos europeus é altamente provável se a crise provocada pela pandemia de Covid-19 se mantiver em 2021. A conclusão é da EconPol Europe (European Network for Economic and Fiscal Policy Research), com sede em Bruxelas. A EconPol Europe é uma rede de 14 institutos de pesquisa universitários e não universitários em 12 países, que contribuem com conhecimentos científicos para a discussão do futuro da União Europeia.

Num comunicado divulgado esta semana o research da EconPol Europe diz que se a crise mundial do Covid-19 continuar em 2021, é “altamente provável” que os principais bancos europeus não sejam capazes de suportar os choques financeiros. Isto ganha importância numa altura em que o Governo português volta a castigar os bancos com um adicional de solidariedade que acresce à contribuição extraordinária do setor bancário criada em 2010 com o propósito de ser temporária, mas que acabou por vir para ficar.

A análise da EconPol Europe diz ainda que “embora o atual quadro de resolução bancária – implementado após o colapso global de 2008 – tenha fortalecido os bancos europeus, mais do que durante a crise financeira, serão necessários apenas 21% do total dos créditos entrar em incumprimento para esgotar as almofadas de capital dos bancos completamente.

A análise, de Jézabel Couppey-Soubeyran (EconPol Europe, Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne, CEPII), Erica Perego (EconPol Europe, CEPII) e Fabien Tripier (EconPol Europe, Universidade Paris-Saclay (Univ. Evry), CEPII), analisa os problemas que a crise do Covid-19 coloca aos bancos, as propostas atualmente em discussão e as decisões tomadas até o momento pelas autoridades monetárias e prudenciais.

O estudo destaca, dizem os autores, a fragilidade da atual estrutura prudencial e a inadequação do mecanismo de resolução.

“A crise do Covid-19 é um teste sério às reformas empreendidas após a crise financeira de 2007-2008”, dizem. Essas reformas foram implementadas para evitar uma crise financeira sistémica ou para a mitigar as suas consequências.

O risco sistémico foi uma das principais lições da crise financeira. “Mas agora estamos diante da realidade de um risco sanitário que foi subestimado anteriormente”, dizem os autores do estudo. Na escala de desastres, essa crise com origem na saúde é ainda mais grave do que uma crise financeira sistémica, devido à maneira como afeta simultaneamente todas as atividades económicas a nível global”, acrescentam.

Dada a dimensão da recessão iminente, se o apoio oferecido pelos bancos – como as moratória de crédito, reescalonamento de empréstimos, facilidades de liquidez e empréstimos com taxa de juros zero ou negativa – durasse por longos períodos de tempo, as reservas de capital seriam esgotadas e o mecanismo de resolução da União Bancária, acordado em 2012, seria insuficiente como tábua de salvação dos bancos.

“Se as perdas se acumularem na economia e nos mercados financeiros, a erosão do capital dos bancos aumentará o risco de insolvência”, continuam os autores. Será necessário ativar o mecanismo de resolução. “Após o recurso à recapitalização através dos credores dos bancos, que respondem por pelo menos 8% das perdas, o Single Resolution Fund (SRF) – Fundo de Resolução Europeu –  poderia então ser mobilizado a responder por aproximadamente 40 mil milhões de euros (sua alocação atual é igual a 80% de 55 mil milhões). No entanto, isto representa apenas 2% do capital dos bancos da área do euro. Esse valor não seria suficiente se vários grupos bancários tivessem que ser recapitalizados ao mesmo tempo”, diz o estudo.

Segundo o Conselho Europeu de Risco Sistémico (ESRB), o risco de falência bancária aumentou bastante desde o início da crise do Covid-19.

A probabilidade de pelo menos dois grandes bancos europeus ultrapassarem o rácio de 5% de NPE – Non Performing Exposure (malparado) em março de 2020 é elevada.

“E, enquanto ainda estamos longe dos níveis recordes de mais de 15% de NPE observados durante a crise da dívida soberana, a velocidade com que esse rácio sobe e as sombrias perspectivas económicas para o próximo ano sugerem um risco substancial de contágio da atual crise para o setor bancário”, refere a EconPol no seu paper.

“Seguindo as recomendações do acordo de Basileia 3, assinado em 2010 e finalizado em 2017, os requisitos de capital foram fortalecidos, os requisitos de liquidez foram introduzidos e um novo e mais simples rácio de capital, que não depende de ativos ponderados pelo risco, foi adicionado. Sem dúvida, todas essas disposições tornaram os bancos europeus mais fortes do que eram às vésperas da crise financeira de 2007. Mas o atual quadro prudencial é frágil”, concluem os autores da pesquisa. Os autores adiantam que o quadro prudencial “não foi projetado para lidar com uma crise desta natureza e o mecanismo de resolução exigirá recursos adicionais se a crise bancária não puder ser evitada”.

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