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Crédito a empresas vai cair este ano face a 2020, avisa Paulo Macedo

As empresas “recorreram às linhas para alongar maturidades e por isso vão precisar menos de crédito a curto prazo”, avisou o CEO da CGD que teceu ainda críticas ao Programa Retomar. “Alguém se candidatou? Só por curiosidade”. Em alternativa defendeu o prometido “Programa Capitalizar”. Banca vai ter primeiro stress test ambiental já em 2022, anunciou.
Cristina Bernardo
20 Outubro 2021, 11h27

As empresas recorreram às linhas garantidas pelo Estado para alongar maturidades e por isso vão precisar menos de crédito a curto prazo. O Programa Capitalizar vai ser mais útil que Programa Retomar para as empresas. “Alguém se candidatou? Só por curiosidade”, questionou o CEO da Caixa Geral de Depósitos. O banqueiro lembrou também que os ratings ambientais vão marcar o financiamento das empresas. “A Banca vai ter primeiro stress test ambiental já em 2022”, e “já há bancos no mundo que não financiam empresas que usam o carvão no processo produtivo”.

Estas foram as principais mensagens de Paulo Macedo, presidente da CGD, no seu discurso na abertura do “Fora da Caixa” em Tomar, que decorreu na terça-feira.

O CEO da Caixa disse a uma plateia de empresários, que a procura de crédito a empresas vai cair este ano face ao ano passado, porque em 2020 com a linhas de crédito protocoladas (com garantia do Estado) o crédito atingiu um pico.

As empresas também “recorreram às linhas para alongar maturidades e por isso vão precisar menos de crédito a curto prazo”.

“Calculamos que no sistema financeiro um terço das linhas não tenham sido utilizadas, e começarão agora a ser usadas para amortizar empréstimos no fim das moratórias”, disse o CEO da CGD.

“Isto não é uma boa notícia para a banca, mas é uma boa notícia para as empresas”, porque com taxas de juros baixas e a procura de crédito a cair as empresas conseguem melhores condições de financiamento bancário.

As taxas de juro vão manter-se baixas durante mais algum tempo e o banqueiro antevê taxas de juro positivas em 2024 e 2025, podendo esse movimento ser antecipado para 2023.

“Para quem investe tem um ambiente taxas de juro baixa”, disse o CEO da Caixa Geral de Depósitos.

Por outro lado os depósitos atingiram um pico nos últimos 17 anos, adiantou.

Paulo Macedo explicou aos empresários que os últimos dados revelam que a dívida privada está de acordo com a média europeia ou até abaixo, porque as empresas desalavancaram e os particulares também. Mas a contrapartida é que a dívida pública disparou para um nível acima da média europeia.

O CEO da CGD lamentou ainda que o nosso sector exportador continue a ser suportado pelo turismo e alojamento e alertou que o país precisa de investir na melhoria da formação dos quadros de base, mas também de melhorar a qualificação da gestão.

O banqueiro defendeu também a implementação do prometido “programa de capitalização das empresas que está para sair há sete ou oito anos”, porque, lembrou reagimos à crise “pondo mais dívida em cima da dívida, agravando o desequilíbrio entre capitais próprios e capitais alheios”.

Na opinião da CGD “este Programa Capitalizar, a ser bem sucedido, vai ser mais importante do que por exemplo o Programa Retomar, que foi agora lançado para apoiar as empresas no fim das moratórias. Alguém se candidatou ao Programa Retomar? Só por curiosidade”, perguntou o presidente da Caixa a uma plateia de empresários.

Perante a ausência de resposta dos empresários à sua pergunta, Paulo Macedo concluiu: “Não deixa de ser significativo. Porque de facto as restrições foram tantas que há poucas a empresas a qualificarem-se para esse programa”. Portanto, “o Programa Capitalizar será mais importante para a corrigir esta assimetria que tem muitas décadas, de défice de capitais próprios”, rematou.

Sobre os desafios das empresas ao nível das métricas de  ESG (environmental, social and corporate governance), o presidente da CGD lembrou que as empresas vão  passar a ter rating ambiental que não terá consequências em termos de crédito, mas serve de alerta para introduzir melhorias.

“Os bancos para o ano vão ter o primeiro stress test só sobre questões ambientais”, revelou o presidente da Caixa. Apesar de os ratings ambientais não condicionarem, em teoria, o crédito, “a verdade é que já há vários bancos no mundo que não financiam indústrias extrativas de carvão, e não financiam empresas que consomem carvão no seu processo produtivo”, como bem lembrou Paulo Macedo.

“Estamos num tempo em que a nossa geração está a atacar as gerações futuras, em termos orçamentais e em termos climáticos”, realçou.

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