Domar (D) foi um economista russo mais tarde naturalizado americano, que conjuntamente com Harrod (H), este um economista inglês, que conjuntamente desenvolveram um modelo económico que assentava na tentativa de explicação da taxa de crescimento duma economia em termos do nível de poupança e da produtividade do capital. A grande crítica a este modelo, vem do facto de H-D considerarem que existe apenas uma taxa de poupança garantida e não diferentes taxas, associadas a diferentes classes sociais. Daí o célebre “equilíbrio no fio da navalha”, como ficou conhecido no mundo da Economia.

Vem isto a propósito, para ilustrar o que se está (de novo) a passar com a Banca em Portugal, ou melhor, com a política de concessão de crédito.

Parece que a Banca esqueceu o que se passou nos tempos de crise – particularmente entre 2008 e 2013 – e volta a insistir no mesmo modelo de negócio, isto é, conceder crédito a quem, muito provávelmente no futuro (mais próximo do que alguns julgam) irá ter sérios problemas para solver as suas dívidas.

O negócio principal da Banca é a intermediação, isto é, captar recursos e aplicá-los em crédito. No entanto, tal deverá ser feito com muita parcimónia respeitando uma matriz de aceitação de riscos de crédito apertada e que dê conforto ao credor (e já agora também ao mutuário), para que em situação de maior aperto orçamental, o mutuário consiga solver as suas responsabilidades, evitando a criação de provisões por parte da Banca para crédito vencido e imparidades.

Já não vou aqui falar da subida das taxas de juro de referência que qualquer ano irão subir. Esta situação, se para créditos de curto prazo (crédito ao consumo e outras finalidades), não compaginará perigos maiores, o mesmo já não acontecerá para créditos à habitação, devido à sua longevidade.

Outro sim, falo dum inevitável abrandamento da actividade económica que trará consigo menor distribuição de rendimentos e, consequentemente, com famílias endividadas muito para além do limiar da taxa de esforço de equilíbrio financeiro, irão começar a derrapar e a Banca a voltar a um passado que todos conhecemos.

As medidas tomadas recentemente pelo Banco de Portugal foram interessantes, mas ficaram aquém daquilo que se exigia, para uma maior protecção de quem empresta e de quem pede emprestado. Depois voltaremos ao mesmo: o Estado a injectar milhares de milhões para salvar mais algum banco, com custos para todos nós, escudando-se naquela velha justificação “to big to fail!”.

Que ninguém tenha dúvidas – a Banca parece não ter aprendido com os erros do passado bem recente. E está de novo num “equilíbrio de fio da navalha”, que à mínima constipação da economia, lhe provocará uma pneumonia de muito difícil cura.

Sendo a economia portuguesa uma economia de mercado, não entendo porque não deixar o mercado funcionar. Isto é, as empresas que têm dificuldades estruturais tais, que não conseguem sobreviver pelos seus próprios meios, há que as deixar seguir o seu curso normal. Isto deveria ter já acontecido com a Banca.

Caso tivesse acontecido, o país teria os meios suficientes para fazer mais hospitais; para não deixar o serviço nacional de saúde no pântano que hoje se encontra; para reduzir a taxa de pobreza; para investir na recuperação de tantas estradas degradadas ou mesmo para a construção do novo aeroporto de Lisboa.

A importância sistémica que os governos têm atribuído à Banca não pode justificar tudo. Os erros terão que ser pagos, não pelos portugueses que nada tiveram a ver com más gestões, mas pelos accionistas dessas mesmas instituições. Uma palavra final para a CGD, que sendo do Estado, acabamos todos nós por pagar aumentos de capital, por desmandos feitos por aqueles que o Estado escolheu.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.