O turismo foi o setor de atividade que mais sentiu, sente e continuará a sentir os impactos desta pandemia mundial sem precedentes. Uma indústria que movimenta 1,5 mil milhões de pessoas e gera cerca de 2,67 biliões de euros parou com 100% dos destinos turísticos a imporem restrições de viagens. Em menos de um trimestre, as chegadas internacionais caíram entre 20 e 30% relativamente ao ano de 2019, o que se traduz num decréscimo das receitas na ordem dos 280 a 400 mil milhões de euros.
Um retrocesso que leva o desenvolvimento do setor para os números de 2012. Ainda e, de acordo com a OMT esta é a maior crise que o setor já vivenciou. No entanto, a OMT alerta para a necessidade de olhar para estas estimativas com alguma cautela, pela natureza incerta desta crise sem precedentes.
A resiliência deste setor e a sua capacidade de recuperar das volatilidades económicas e sociais que crises despoletam é incontestável. Por exemplo, depois da crise económica, o emprego no turismo cresceu 35% entre 2010 e 2018, sendo que nos outros setores cresceu apenas 11% (OMT, 2020).
Esta resiliência não constitui, por si só, razão para acreditar que o turismo não necessite duma ação concertada e de muito apoio para recuperar. Sabendo que o turismo é o motor da economia em países como Portugal, sabendo que mais de 80% das empresas do setor são pequenas e médias empresas, o turismo deve ser entendido como uma prioridade estratégica para a recuperação económica e social futura.
Uma recuperação que não pode, ou não deve incidir no modelo de crescimento exponencial que pautou as últimas décadas. É tempo de parar e repensar o turismo.
E enquanto se repensa o turismo, o setor precisa de apoio, medidas fiscais e monetárias são indispensáveis, para não permitir o total colapso do setor e de todas as suas “constelações” a montante e a jusante. Sendo indiscutível a premência de medidas fiscais e monetárias, que não devem passar por mais endividamento, é preciso reestruturar o setor e ensinar as empresas a viver com uma estratégia de crescimento mais contido.
A velha máxima de que menos é mais deve ser o mote de recuperação. Uma recuperação que passa por reestruturar a oferta, repensar os produtos turísticos e oferecer novos lugares.
Uma estratégia que exige estudos de viabilização dos atuais negócios, cenarização de capacidades de carga, definição de preços e rentabilidades. A aposta no turismo de luxo, de natureza, de saúde e bem-estar são essenciais para recuperar um setor que foi “desligado” abruptamente. Parcerias estratégicas e sobretudo reconhecer que somos todos parte do problema e da solução é meio caminho andado para recuperar. Hoje mais do que nunca, o setor necessita de estar unido e pensar em soluções de longo prazo, que garantam a sustentabilidade com a necessária redução da capacidade de carga, que já percebemos ser nociva para o ambiente.
Sendo que o turismo encontra no ambiente o seu capital natural, e que somos pouco mais do que hospedes neste planeta, importa sermos bons hóspedes. Será tempo de afirmar que a Terra, nosso anfitrião não esquecerá o hóspede que o tratou bem.