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Crescimento português: o turismo volta à cena?

Um modelo de crescimento económico orientado para o exterior é tipicamente vulnerável e dependente de dinâmicas que não se controlam.
10 Fevereiro 2023, 09h40

Em outubro de 2022, o Governo anunciava que as exportações portuguesas teriam atingido praticamente metade do PIB, associando este resultado ao crescimento do investimento estrangeiro no país. A União Europeia representava 71,4% do total em 2020, com Espanha à cabeça (com 25,4%).

As exportações têm sido um motor importante do crescimento da economia portuguesa no pós-pandemia, explicando o seu desempenho acima da média europeia – um crescimento de 6,8% em 2022 (Banco de Portugal) contra 3,3% na zona euro (Comissão Europeia). Segundo a AICEP, em 2022 o contributo das exportações para o crescimento económico foi de 8,2 pontos percentuais. O bom comportamento da economia portuguesa levou mesmo a revista “The Economist” a classificá-la em segundo lugar no ranking dos vencedores económicos improváveis.

Entre os bens e serviços exportados, destacaram-se sem surpresa a rubrica Viagens e Turismo representando 17,9% do total, mas também Máquinas e Aparelhos (9%) e Veículos e Outro Materiais de Transporte (8,1%), indiciando um aumento da competitividade da economia portuguesa. Só que um modelo de crescimento económico orientado para o exterior é tipicamente vulnerável e dependente de dinâmicas que não se controlam.

E que cenários se esperam para a envolvente externa em 2023? As últimas análises da OCDE destacam o abrandamento da inflação em finais de 2022, com os preços altos da alimentação e da energia como os principais responsáveis pelos valores ainda elevados na zona euro, a robustez dos níveis de emprego, que se têm mantido elevados e a recuperação do turismo, embora de forma frágil e desigual entre países.

Se os dois primeiros permitem manter o otimismo, o último é um fator de grande incerteza com impacto significativo na evolução da economia portuguesa. O turismo tem sido não só afetado pelo aumento dos custos da energia e dos alimentos, mas também pela escassez de mão de obra. Do lado da procura tem uma população que enfrenta custos de vida crescentes e que tenderá a cortar em consumos supérfluos. Sem o impulso deste setor, será difícil manter as previsões em terreno positivo.

E voltamos ao interminável círculo vicioso da economia portuguesa: a procura externa explica o seu crescimento e assim as suas encruzilhadas.

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