“A inovação disruptiva, contrariamente à inovação revolucionária, não só substitui soluções existentes, mas cria novos mercados e muda a sociedade.”

Inovações como a criação do automóvel ou a tecnologia que suporta o consumo de obras protegidas por direitos de autor em formato “streaming”, só se tornaram disruptivas quando toda a cadeia de valor que suportava cada um dos modelos de negócio se alteraram.

O automóvel só passou de inovação revolucionária a disruptiva aquando da criação da linha de montagem, que reduziu o custo unitário de produção, da criação de infraestruturas e da proficiência na utilização.

Dez anos passaram desde a criação das condições tecnológicas para que o consumo dos produtos e serviços de música e de filmes ocorresse de forma legal. Só depois de toda a cadeia de valor e ecossistema de conteúdos, constituídos por reguladores, produtores, agregadores, distribuidores, emissores a consumidores de conteúdos terem estabilizado em novos modelos de negócio e operação, sustentada em regulação que definiu o modelo possível de equilíbrio e proteção de todos os participantes, a inovação do “streaming” de conteúdos se tornou disruptiva.

O caso dos produtos e serviços sujeitos a direitos de propriedade intelectual é meramente ilustrativo da complexidade da adaptação dos ecossistemas.

Os conceitos (já tão não) inovadores de economia partilhada, ride sourcing, car sharing e pool ridding, aliados às tecnologias inovadoras dos carros elétricos e veículos de condução autónoma, têm potencial para dinamizar um sistema inovador disruptivo de mobilidade para as cidades. Alguns deles levaram, inclusive, à criação de novos mercados. No entanto, nenhum deles se constitui individualmente como inovação disruptiva de mobilidade para as cidades. As sinergias entre conceitos e tecnologias mencionados são catalisadores de uma mobilidade urbana disruptiva, mas não são condições suficientes.

O processo para a criação de um ecossistema de Mobilidade Urbana disruptivo passa por deixar a abordagem convencional de fazer acompanhar o aumento da oferta, com o aumento da procura, para uma abordagem em que é feita a gestão da procura através de uma capacidade seletiva da oferta, adotando uma estratégia AVOID-SHIFT-IMPROVE: reduzir ou evitar a necessidade de se deslocar (eficiência do sistema); alterar ou manter meios ambientalmente mais sustentáveis (eficiência da deslocação); e melhoria da eficiência energética dos meios de transporte (eficiência dos veículos). Passa também por criar infraestruturas que permitam menos e mais rápidas passagens intermodais, e sistemas de pagamentos seguros, confiáveis, escaláveis, flexíveis, eficientes e integráveis com o restante ecossistema de produtos e serviços da cidade.

Nesta estratégia, só as políticas públicas adequadas, a criação das infraestruturas, aliadas às novas tecnologias e conceitos de economia partilhada, permitem a criação de um ecossistema de Mobilidade Urbana Futura disruptivo, que mude efetivamente a sociedade.