A época de eleições é rica em promessas, e apesar dos portugueses já estarem habituados, o problema, tal como nas bebedeiras, é o dia seguinte.
Todos os sectores, desde a educação, saúde, justiça, segurança, agricultura e demais que se queiram juntar a protestos, são agora alvo da conquista do voto. Desde a semana de quatro dias de trabalho, à redução de custos em autoestradas, aumentos de salários, de pensões, prestações, do investimento, etc. Gastar é fácil, o problema é criar riqueza para distribuir.
Mas este não é um problema apenas português. A zona euro está agora a assistir a outra crise, originada pelos protestos dos agricultores. A gestão europeia dos assuntos, burocrática e pouco dada a pensar nas preocupações internas dos europeus, irá criar fraturas que levarão cada vez mais cidadãos a colocar em causa o projeto europeu. Com o aproximar das eleições americanas irá ficar mais patente que a Europa tem de proteger-se, interna e externamente.
Criar riqueza envolve aumentar a produtividade, interconexões, ligações entre povos e aumentar o comércio sustentável. Temos de regressar a 2010 e à crise provocada pelas cinzas do vulcão na Islândia, que paralisou toda a Europa, para nos recordarmos das promessas feitas. Todas as capitais iriam ser ligadas por alta velocidade, alternativas de interconexão de mercadorias e pessoas.
Mais de 14 anos depois, continuamos a discutir infraestruturas chave para o país, a dependência da bitola ibérica e de Espanha para circularmos na União Europeia, como se o passar do tempo fosse resolver os problemas. Madrid acabou de passar à frente na constituição de um mega-aeroporto ibérico, para além da hegemonia na gestão da água e do fluxo comercial com Portugal.
A ausência de uma verdadeira política europeia atrai os extremos de ambos os quadrantes políticos, colocando em causa o que deve ser a gestão da causa pública em favor de uma democracia saudável. Iremos, Portugal e a Europa, pagar a fatura do descontentamento popular e, principalmente, da ausência de educação financeira e social desde cedo.
Criar riqueza e ter melhor qualidade de vida não é trabalhar menos. Na maior parte das situações é trabalhar melhor e em alguns casos trabalhar mais horas. A ilusão de rendimentos fáceis traz consigo a desilusão e a crença em promessas que não podem ser cumpridas sem fazer mal às próximas gerações. É assim que temos andado.
2023 ficou marcado pela cosmética da inflação que permitiu ao Estado uma arrecadação recorde, e a ilusão de que a dívida diminuiu. O problema mantém-se e é grave, principalmente quando o país tem investimentos na calha com recurso a subsídios e a endividamento. Criar riqueza é mesmo difícil!