(… ainda sobre a Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores – CPAS).
Não sei, ainda, se a CPAS é um caso de polícia. Sei apenas, e não é pouco, que há uns cidadãos cuja protecção na doença é substancialmente inferior à dos outros e cujas regras da reforma se alteraram para substancialmente pior do que as da generalidade. Esses cidadãos são os advogados e os solicitadores, presos a uma Caixa de Previdência para a qual descontam independentemente do que ganham – e se ganham – e cuja saúde financeira já terá tido (muito) melhores dias. Não desconheço, também, que a generalidade das pessoas vê a minha classe com desconfiança e considera as suas reivindicações um abuso. Fá-lo, contudo, até ter alguma familiar que, quase em trabalho de parto, tenha que fazer umas alegações ou que, não obstante nada ganhar por ter cancro, receba mensalmente uma carta desta instituição a pedir-lhe mais de € 250,00, sem que a isso corresponda qualquer tipo de protecção.
É sabido que, ao contrário do que a generalidade das pessoas apregoa, por regra a coberto do anonimato e nas famosas redes sociais, a classe profissional a que pertenço é das mais desunidas, ficando-se, bastas vezes, pela solidariedade nos cumprimentos que dirigimos reciprocamente, pela praxe, em tribunal.
Nos últimos tempos, porém, quer por força de um conjunto de colegas que iniciou uma série de diligências, quer por via do que se tem descoberto nas já referidas redes sociais, o mote tem sido de maior união, siderados que estamos perante o que tem sucedido e a forma como o dinheiro que descontamos parece ter sido gerido. Desde aparentes erros na localização em projectos de construção de imóveis de luxo, à sobrevalorização de outros imóveis, passando pela uma manifesta promiscuidade entre os designados construtores contratados, os promotores e os fiscais de obra, todos intimamente relacionados entre si, os factos até agora apurados não apenas justificam, como impõem a auditoria que se quer fazer e que é recusada com total alheamento pelos órgãos eleitos da Ordem.
Daí que o título deste artigo pudesse, igualmente, ser “Quem tem medo da auditoria?”, uma vez que não deixou de proceder a uma para atacar inimigos políticos mas, agora, recusa outra, cujo âmbito de aplicação é muitíssimo mais importante, atentas as suas consequências sobre toda uma classe que, bem ou mal, os elegeu.
É certo que, em termos estritos, o que se tem vindo a saber poderá não configurar crime. Não obstante, do ponto de vista ético, iludir milhares de pessoas não assume natureza menos grave. A confirmarem-se as suspeitas, sim, digo eu, é criminoso, quer pelas acções entretanto ocorridas, quer pela omissão dos actuais dirigentes. Por isso, e pela minha parte, auditoria já. Para ontem.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.