Nos últimos anos temos assistido ao aparecimento das chamadas “moedas digitais”. São várias as centenas de moedas digitais atualmente disponíveis, sendo a mais mencionada a Bitcoin, não só porque foi uma das primeiras a surgir, mas também pelo aumento espetacular de valorização (e volatilidade) que tem tido – valia 17.000 dólares em dezembro de 2017, quando em janeiro do mesmo o seu valor era “apenas” de 1.000 dólares.

Este fenómeno de valorização e variação de valor não é exclusivo da Bitcoin, sendo uma realidade que se tem verificado na maior parte das moedas digitais, pelo menos nos períodos iniciais. Por exemplo, a Litcoin valorizou cerca de 7.500% em 2017 (passou de 4 para 300 dólares), enquanto que a portuguesa “AppCoin” (da empresa Aptoide) valorizou mais de 2.000% desde o seu lançamento em novembro na WebSummit.

No entanto, nem tudo são boas notícias. Além das incertezas que estas “moedas” levantam em termos de transparência, de reserva de valor e de aceitação generalizada no mercado, há que lembrar que se tratam de moedas altamente voláteis e sujeitas a elevada especulação. Por exemplo, a Bitcoin vale atualmente cerca de 14.000 dólares, tendo desvalorizado 20% em menos de um mês.

Mas mais relevante do que acompanhar a evolução das moedas digitais, é analisar o potencial da tecnologia que está por detrás e que as suportam, o blockchain. Esta tecnologia baseia-se num conjunto de transações digitalmente assinadas, validadas e distribuídas por computadores e redes de utilizadores a nível mundial, sendo suportada em opensource. O atrativo da tecnologia blockchain é que permite a transmissão de grandes fluxos de dados e de informações entre pessoas ou entidades, de forma célere e sem intermediários (sem autoridades centrais de supervisão ou validação dos dados), anónima e segura (utilização da criptografia).

Ou seja, podemos afirmar que o sucesso desta tecnologia reside em dois aspetos essenciais: a confiança dos utilizadores na tecnologia (confidencialidade e anonimato das transações) e a diminuição dos chamados custos de transação entre agentes económicos.

Dadas estas características, a tecnologia blockchain pode ir muito além do sistema financeiro e das moedas digitais, podendo ser utilizada e aplicada em vários setores de atividade e áreas de negócio. Por exemplo, nos contratos entre entidades e nas transações comerciais, os procedimentos de contratação podem ser feitos de forma mais segura e célere, e com menores custos para todos os intervenientes (especialmente relevante para a indústria ou extensas cadeias globais de produção). Ou até no registo de direitos de propriedade (“registo de terras”, por exemplo), em que a aplicação da tecnologia blockchain tornaria mais difícil alguém adulterar registos de propriedade.

E isto foi já percebido pelas grandes multinacionais tecnológicas a nível global, que se juntaram no projeto Hyperledger (da Linux Foundation), que pretende identificar áreas de negócio para potencial aplicação do blockchain. A Airbus, American Express, Cisco, Fujitsu, Daimler, IBM, INTEL, SAP, NEC, EY, Delloite, Accenture, BBVA, Huawei, Nokia, NTT Data, Samsung, Wells Fargo, Bank of England ou a portuguesa YDreams, são algumas das empresas que estão a colaborar e a desenvolver projetos inovadores em várias áreas – não só na área financeira, mas também na Saúde (fiabilidade e segurança dos registos clínicos) e nas cadeias de valor industriais (rastreabilidade e autenticidade dos bens, diminuindo a contrafação).

Do que sabemos, e apesar dos riscos associados e da aplicação da tecnologia blockchain estar ainda numa fase embrionária, parece ser grande o seu potencial na introdução de maiores níveis de eficiência, de maior rapidez, na diminuição de custos e aumento da confiança nas relações entre os vários agentes económicos. Mas também no impacto na criação de novos produtos, serviços e soluções, tanto ao nível das empresas, de agrupamentos de entidades (como os Clusters ou consórcios) como da própria Administração Pública (acelerando os processos de simplificação administrativa).

O blockchain pode ser a tecnologia do início do século XXI que faltava para acelerar o processo de inovação a nível global, contribuindo para o aumento da produtividade e de uma economia baseada na “criptoinovação”.