Na crise de subprime de 2008, e que anos mais tarde resultou num grande resgate do sistema financeiro nacional e do país, Portugal e Grécia começaram por ser os países que, teoricamente, deveriam ter sido poupados a toda a turbulência, pois éramos tomadores de fundos, mas a importação da crise acabou por gerar consequências inimagináveis.
Vem esta ideia a propósito da atual crise de confiança no sistema financeiro, que começa por um banco pequeno nos EUA, o Silicon Valley Bank (SVB), que não foi resgatado pela autoridade monetária norte-americana e que arrastou consigo o Silvergate e o Signature.
A situação acabou por ter ramificações na Europa via Credit Suisse e as autoridades helvéticas (SNB e FINMA) conseguiram, pelo menos temporariamente, controlar a situação ao anunciar um resgate de 51 mil milhões de euros, depois de o seu principal acionista, o Saudi National Bank, se recusar a fazê-lo.
Claro que associar a recente crise bancária e de liquidez à crise de 2008 é, com o pouco que se sabe hoje, um exagero. Lembremos que em 2008 a generalidade dos bancos tinha produtos de alto rendimento nas carteiras que iriam sofrer desvalorizações de 70%, 80% ou mesmo 100% e, naquele ano, quem tinha mais títulos de alto rendimento era a China, muito alavancado no imobiliário.
A situação é diferente na atualidade e resulta da conjugação dos habituais sustos nos mercados de capitais (que na quinta-feira já reagiram em alta), com o efeito Ucrânia e toda a disrupção a nível de cadeias logísticas.
A crise acontece enquanto decorre uma guerra e os bancos centrais decidem pela subida de juros para controlar a inflação que resulta da escassez de matérias-primas e, também, do aumento do consumo no pós-pandemia. A perspetiva imediata para os analistas é que a economia dos EUA recupere no próximo ano e a economia europeia leve os tradicionais dez anos.
Mas o comparativo da crise atual com 2008 não fica por aqui, e por aquilo que se viu nos últimos dias é lícito concluir que pouco se aprendeu com a crise de há 15 anos, senão o regulador norte-americano não teria deixado cair um banco.
Na última crise deixaram cair o Lehman Brothers e o resultado foi catastrófico. De seguida não deixaram cair o Merrill Lynch, integrando-o no Bank of America, e mais tarde também não deixaram cair o grupo AIG. Mas não aprenderam ao deixar cair o SVB. Ora, na economia raramente se aprende, pois os economistas pensam que sabem governar o mundo quando nos cursos de economia falta a cadeira de sociologia para aprenderem a interpretar a reação das massas.
A Suíça quis retirar lições, assim como o Reino Unido, via HSBC, ao comprar o braço britânico do SBV, mas não se entende como se deixa cair um banco em que se percebe que tem ativos como obrigações de longo prazo que desvalorizam naturalmente perante a subida de taxas de juro. Quiseram esconder o impacto porque era apenas um dos bancos que financiava Silicon Valley e as startups, e o resultado é o que se vê.
Fica para pensar o facto de serem crises que criam recessões globais, sendo que a atual resulta de uma pandemia e de uma guerra com incumprimentos a nível global.
E se em 2008 o resultado foi o aumento das reformas, mais regulação e supervisão, a crise de confiança de 2023 arrisca continuar em 2024 com o descontrolo da inflação e uma economia menos globalizada.