O Governo divulgou esta segunda-feira as suas medidas de apoio às famílias em resposta ao aumento do preço da energia e à inflação. Mais uma vez, por entre apoios à quebra de rendimento das famílias mais desfavorecidas, desperdiçou-se a oportunidade de propor soluções estruturais, onde criar incentivos ao uso de transportes públicos, à semelhança do que se passa no resto da Europa, faria todo o sentido.

As medidas propostas são meros paliativos. Um país que tem divergido dos parceiros com quem partilha uma moeda única e que vive espartilhado do ponto de vista da política económica não pode dar-se ao luxo de escolher não resolver os seus problemas de fundo quando, finalmente, é autorizado a usar a sua política orçamental.

Por entre a tolerância da intervenção pública, poupar energia está na ordem do dia – Van der Leyen quer que, no Conselho de Ministros extraordinário desta sexta-feira, os países proponham medidas para reduzir o consumo de energia, em especial de eletricidade e gás. Não estão esquecidas, no entanto, as perturbações geradas pela subida do preço do petróleo, nem o embargo previsto pela União Europeia (UE) ao crude russo a partir do próximo mês de dezembro, ou a mais recente vontade do G7 de fixar limites ao seu preço.

No caso português, todo este contexto cria um meio favorável para enfrentar aquele que é um sério problema nacional – a forte dependência do automóvel particular (88, 4% dos portugueses deslocavam-se de carro em 2018 segundo o Eurostat).

Exemplos de políticas não faltam, tomadas por países da UE ainda durante o verão – a Alemanha criou um passe com um valor mensal de nove euros, Espanha reduziu em 50% o preço das viagens de comboio na companhia Renfe – e, mais recentemente, reforçando mesmo estas soluções – o governo de Olaf Scholz anunciou que vai canalizar 1,5 mil milhões de euros para serem usados em descontos em transportes públicos, enquanto Pedro Sánchez tornou gratuitas as viagens de comboio de curta e média distância. Ao fomentarem a poupança de energia, estas medidas conseguem ainda responder aquele que é o problema de base – a redução dos orçamentos das famílias.

Não é demais lembrar as vantagens em termos de poluição atmosférica e sonora que podem resultar de usar menos o carro e mais transportes públicos. E, não, a eletrificação do automóvel pessoal não é a solução – comprometida pela crise energética e impotente para inverter a subida do custo de vida. Embaratecer as formas coletivas de transporte seria a forma expedita de responder de uma assentada a estes problemas. E se conseguisse descongestionar o trânsito, poderia mesmo criar condições para se tornar sustentável, com efeitos a médio e longo prazo.

Os céticos dirão que estas medidas têm um custo demasiado elevado e que exigem um financiamento. O governo alemão pode também servir-lhes de inspiração: Scholz propôs-se taxar os lucros extraordinários das empresas de energia e usá-los para financiar as suas medidas.

Há talvez um grande senão nesta política: é demasiado democrática, beneficiando todas as classes de rendimento por igual. Em Portugal já nos desabituámos de tanta igualdade.