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Crise no FC Barcelona: “Política do clube parece ser convencer jogadores a reduzir os salários”, diz especialista

Gonçalo Almeida, antigo advogado da FIFA explica que os efeitos da pandemia estão a refletir-se nas finanças do clube catalão de tal forma que a “direção necessitando de reduzir a massa salarial, vê-se na necessidade de renegociar os contratos aumentando a duração dos mesmos.”
Gonçalo Almeida
3 Novembro 2020, 17h47

As negociações entre os jogadores da equipa principal de futebol do FC Barcelona e os funcionários do clube catalão continuam num impasse. A crise económico-financeira provocada pela pandemia do coronavírus levou a que a direção do emblema espanhol tenha proposto uma redução salarial, algo que não foi aceite quer por funcionários, quer pela maioria dos jogadores.

Contudo, no final de outubro os jogadores Ter Stegen, Piqué, Lenglet e De Jong acertaram um novo vínculo, prolongando o seu contrato, mas reduzindo a sua massa salarial de forma temporária, algo que não agradou aos restantes elementos do plantel. De resto, o FC Barcelona vive também uma crise desportiva, ocupando atualmente o 12º lugar da liga espanhola.

Em declarações ao Jornal Económico, o advogado especialista em direito desportivo Gonçalo Almeida, acredita que “a política do clube parece ser tentar ao máximo convencer os jogadores a reduzirem os salários”, sendo que “por um lado essas renovações prolongam o vínculo desportivo, por outro devem reduzir a remuneração, sendo certo que poderão estar incluídas cláusulas que uma vez após o estado normal após a pandemia exista um aumento automático da remuneração”.

O antigo advogado da FIFA explica também que ao abrigo da lei espanhola e na eventualidade de uma redução unilateral do salário, é possível aos jogadores rescindirem o contrato “e fruto dessa rescisão com justa causa requerem uma indemnização que se calcule até a uma compensação de 20 dias por cada ano de trabalho e até a um máximo de nove meses de remuneração.”

O FC Barcelona encontra-se a ser gerido por uma Comissão de Gestão depois da demissão do presidente Josep Maria Bartomeu na semana passada. O ex-presidente já vinha sendo contestado desde a eliminação do clube por 8-2 frente ao Bayern Munique nas meias-finais da Liga dos Campeões em Lisboa, uma situação que levou a uma ameaça da saída do clube de Lionel Messi.

“A estratégia de Josep Maria Bartomeu foi muito conflituosa. A sua saída penso que era inevitável, porque claramente já havia uma falta de diálogo e um distanciamento entre o plantel sénior e a direção, uma incompatibilidade em virtude do episódio Lionel Messi e que por sua vez, se arrastou a outros jogadores importantíssimos no seio da equipa como o Luis Suárez”, refere Gonçalo Almeida.

Uma saída que o advogado considera ser acima de tudo uma derrota para o clube e uma situação que teria sido perfeitamente evitável se tivesse havido diálogo e confiança de parte a parte. “Quem acabou por sobreviver claramente foi o plantel, mas esta é uma velha máxima – entre um treinador e uma equipa, o treinador fica sempre a perder. Entre uma equipa e um presidente, de um modo geral quando não são situações radicais e mais tristes, o presidente fica sempre a perder em prol da equipa e do clube”, salienta.

O advogado desvaloriza as notícias vindas a público de que o clube precisa reduzir até esta quinta-feira, 5 de novembro, em 190 milhões de euros na sua massa salarial para não declarar falência em janeiro. “Não é possível de alcançar esse resultado em tão curto espaço de tempo. Em termos de resultados financeiros não estamos no final de nenhum exercício. É um prazo que me parece pouco credível e mais no sentido de querer pressionar publicamente por estes ou aqueles interesses os jogadores”, sublinha.

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