Cristiano Ronaldo ganhou, este ano, pela quarta vez, a bola de ouro, que é atribuída ao melhor futebolista mundial, sendo apenas superado na história do futebol pelo argentino Lionel Messi, que já tem nas suas estantes cinco destes troféus.

Num país com pouco mais de 10 milhões de habitantes, Portugal consegue ter algumas individualidades que, no desporto, nas artes, na ciência e na investigação, difundem além-mar o nosso nome, realizando trabalhos de excelência e sendo os melhores entre os melhores. Não obstante, se verificarmos a produtividade portuguesa no seio da União Europeia, constatamos, tristemente, que disputamos, permanentemente, a lanterna vermelha, tendo na Grécia o nosso adversário de eleição.

Já o grande Eça de Queirós, nas suas magníficas “Farpas”, em 1872, afirmava, num texto que bem poderia ter sido escrito hoje: “Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da arte.”

Devemo-nos, pois, questionar, por que não somos um país de Cristianos Ronaldos? Por que não almejamos ao estrelato, em vez de nos arrastarmos numa tentativa de sobrevivência? Por que não tentamos traçar um caminho que nos tire desta pequenez vergonhosa, em vez de lutarmos diariamente com o único objetivo de evitar que o diabo nos bata de novo à porta?

A resposta a estas e a outras questões passa por analisar o que levou o astro português à glória e ao estrelato.

Nascido com alguma habilidade para o futebol, Cristiano Ronaldo não é, de forma alguma, um predestinado. Predestinado é o seu maior rival: Leo Messi. Ronaldo é fruto de muito trabalho, de muita determinação, de uma vontade indomável de ser cada vez melhor. Sabendo que é melhor do que quase todos os outros, ele não deixa de diariamente se aplicar mais do que todos os outros, de treinar mais do que todos os outros, de se esforçar mais do que todos os outros, de ambicionar a mais do que todos os outros.

Quem viu o Ronaldo enfezado que aos 18 anos rumou ao Manchester United e quem vê o superatleta que hoje espalha o terror entre as defesas adversárias, percebe claramente o enorme trabalho realizado, a imensa ambição.

Quererá isto dizer que os portugueses são, ao contrário de Cristiano Ronaldo, um povo amorfo, de preguiçosos, de apagados, de desinteressados, de improdutivos, de acomodados, que esperam, apenas, como Astérix, que o Céu não lhes caia em cima da cabeça?

Não. Os portugueses são vítimas de quem os lidera ou, melhor, de quem os deveria liderar, mas não o faz. Os expatriados, sejam desportistas, artistas, cientistas ou, simplesmente, trabalhadores manuais, são considerados internacionalmente como do melhor que há. O problema não está, pois, nos portugueses, mas na incapacidade de quem os diz querer liderar. Temos, na generalidade, e com honrosas exceções, maus políticos, maus gestores, maus diretores, más chefias, péssimos líderes. Os seus subordinados não acreditam neles, não os reconhecem como um exemplo, não os querem seguir e, por isso, acomodam-se.

Precisamos, pois, de líderes num país onde a meritocracia cedeu há muito tempo o lugar ao clientelismo para que possamos ser um país de Cristanos Ronaldos.