Os mercados financeiros têm vindo a reagir nas últimas semanas ao aumento das incertezas relacionadas com o braço de ferro entre Estados Unidos e China, relativamente ao protecionismo e escalada da “guerra comercial”, resultando numa maior moderação das perspetivas de crescimento do princípio do ano por parte dos principais bancos centrais do mundo desenvolvido sobre o esperado para os próximos trimestres. A isto acresce outro fator de incerteza, i.e., o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, sobretudo se for de uma forma não negociada.

Os principais índices bolsistas têm vindo a dar conta do agravamento do sentimento dos investidores, e a Reserva Federal norte-americana (Fed) veio na última reunião para esse efeito, descer as taxas de juro diretoras em 25 pontos de base, como forma de “atuar como um seguro contra os riscos de um crescimento global fraco e a incerteza nas políticas comerciais, ajudando a compensar os efeitos que estes fatores estão a ter sobre a economia”.

Posto isto, impõe-se perguntar se é inevitável uma recessão a nível global e a queda acentuada nos mercados internacionais de ativos financeiros?

De facto, e isso é visível em alguns dados avançados, a economia mundial indicia um cenário mais moderado e com algumas incertezas que têm persistido durante mais tempo, mas deverá continuar a crescer nos próximos trimestres. Por exemplo, os Estados Unidos apresentaram um bom crescimento durante o primeiro trimestre do ano (3,1%), mas as tendências associadas ao consumo privado e à procura doméstica são mais moderadas, da mesma forma que o mercado imobiliário está a registar menor atividade e ímpeto de valorização dos preços.

Além disso, também as exportações e em particular o investimento empresarial poderão ser afetados pela crescente incerteza relativamente à imposição de tarifas comerciais e potenciais retaliações.

Contudo, a recessão não é um processo irreversível, sobretudo com bancos centrais atentos. Há ainda dados que sustentam a manutenção do crescimento das principais economias, e não tanto o inverso. As economias deverão continuar a crescer em 2019 e em 2020, embora a ritmos mais moderados (3,2% este ano e 3,4% no próximo, diz a OCDE) e com maiores riscos associados às previsões.

Mais importante é, talvez, a aparente concertação de interesses dos principais bancos centrais do mundo desenvolvido, que, em situações de teste, se assumiu por diversas vezes como um bloqueio complexo de ultrapassar, e envolvendo muitos riscos. Ou seja, a história recente já nos mostrou que, no final, impera sempre a lei da autoridade monetária sobre tudo o resto.

Não é de excluir que os próximos trimestres estejam por isso mesmo centrados nos bancos centrais. Por exemplo, não é de excluir que a Fed ainda possa reduzir as taxas diretoras, dependendo da forma como for evoluindo a incerteza associada aos principais riscos (guerra comercial) num ciclo de abrandamento económico global. Por fim, importa referir uma vez mais que o mundo é hoje um lugar mais preparado para resistir a choques inesperados do que aparenta, e isso também deve ser tido em conta quando observamos fenómenos de caráter menos convencional, como é o caso do regresso do protecionismo, ou “guerra comercial”.

Os bancos centrais estão mais concertados mais bem preparados que noutros momentos similares, pelo que as notícias relacionadas com inevitabilidades de recessão e entrada num ciclo negro nos mercados financeiros podem, para já, ser exageradas.