Há dias atrás fui limpar o meu correio pessoal atrasado e, para grande surpresa minha, abro um email que começava da seguinte forma “Caro amigo”, subscrito pelo Sr. Isaltino Morais. Confesso que me dei ao trabalho de ler a mensagem, talvez na ingénua esperança de encontrar um pedido de desculpas aos portugueses, quiçá uma nova explicação sobre actos passados, mas não, afinal o Sr. Isaltino Morais queria apenas anunciar-me a sua nova candidatura à presidência da Câmara Municipal de Oeiras, com a sua lista “Inovar – Oeiras de Volta”. Ora bem, à parte a forma como se me dirige, e já lá irei, quero informar que não sou amigo do Sr. Morais, não sou sequer seu conhecido, nunca o vi a não ser nos jornais e televisão, e finalmente não sou, nem nunca fui munícipe de Oeiras. Mas então por que carga de água é que sou destinatário desta missiva?

Por que razão um senhor que foi presidente da CMO por várias mandatos e que, segundo informação pública, foi condenado em Agosto de 2009 a sete anos de prisão efectiva, perda de mandato, bem como a pagar uma indemnização de 463 mil euros ao Estado, por fraude fiscal, branqueamento de capitais, abuso de poder e corrupção passiva, ao qual se seguiram 44 recursos da mais variada índole até que passados quatro anos, ou seja em Março de 2013, o Tribunal Constitucional recusa o último recurso e confirma a pena de prisão que entretanto tinha sido reduzida para dois anos e, finalmente, acabou por cumprir pena de prisão efectiva de um ano e dois meses, sendo o resto em liberdade condicional, considera que eu lhe deva confiar o meu voto?

Não há dúvida que o Sr. Isaltino Morais foi julgado, condenado e cumpriu a sua pena, pelo que pressuponho que não terá nenhum impedimento legal para exercer de novo um cargo político, mas será assim de um ponto de vista moral?  Se alguma coisa a vida me tem ensinado é a não julgar pessoas, para isso estão as instituições judiciais e Deus para os crentes, mas espero dos meus concidadãos que cumpramos não só a leis que nos regem, como o pacto ético e moral que nos une como comunidade e suporta a sociedade onde vivemos. Por isso, fui à procura de um pedido de desculpas público, um singelo mea culpa, ou uma justificação credível e fundamentada, que suportasse uma nova candidatura e a renovada confiança dos eleitores, mas, com o risco de algo me ter escapado, confesso que não encontrei nada. Sejamos claros e coerentes, a democracia portuguesa precisa que os eleitores escolham para seus representantes personalidades que sejam referências morais inquestionáveis e exemplos para os nossos filhos.

E a propósito do “Caro amigo”, sou uma pessoa de trato singelo e, por isso, não espero ser tratado com formas rebuscadas, como as divertidas mas anacrónicas que a colonização espanhola deixou por estas terras e que ainda são de uso corrente, Su Merced ou Su Señoria. Prefiro que me chamem simplesmente pelo nome da pia baptismal, como é habitual na cultura norte-americana onde trabalho. Tudo isto porque engalinho que pessoas que desconheço de todo me chamem “amigo” – é meio caminho para um contacto sem futuro!

 

PS: uma chamada de atenção para a Comissão Nacional de Dados Pessoais, pois não faço ideia onde o incompetente marketeer, que nem sequer sabe que não estou recenseado em Oeiras, foi surrupiar esta base de dados, mas claramente isto não deve acontecer.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.