1. A história do comendador Joe Berardo e da dívida dos 980 milhões de euros ao BCP, Caixa Geral de Depósitos e Novo Banco é o resultado das políticas de favor a alguns, da incoerência dos poderes públicos, da ausência de verdadeira democracia e da atuação duvidosa do regulador.

Vamos aos factos. Como é que se compreende que Berardo tenha entrada em incumprimento em 2008 e os três bancos demorem 11 anos para o executar numa operação “kamikaze” (com a devida vénia para o autor da figura, o professor Eduardo Paz Ferreira, ex-presidente do conselho fiscal e de auditoria da Caixa)? Será que o feliz proprietário de um T2 no Cacém teria a mesma benesse?

O que acontece às dívidas logo após o incumprimento? Como foram contabilizadas? E será que as imparidades já foram todas reconhecidas ou não? Ora, por aquilo que sabemos da comissão de inquérito à CGD, o Banco de Portugal (BdP) esteve alerta sobre este assunto desde 2008 e se, desde essa data que não há garantias executáveis, isso quer dizer que foi cúmplice dos bancos que agora reclamam a dívida com a prestação de informação falsa ao mercado.

E será que Berardo tinha tratamento especial? Paz Ferreira confirmou que o comendador Berardo tinha tratamento “especial e à margem” daquilo que são as regras da Caixa para o feliz possuidor do T2 no Cacém. E será que esta postura do BdP é igual para todos? A resposta é negativa porque há filhos e enteados e aqui os enteados foram os administradores do BCP que foram condenados por terem prestado informação falsa!

Ora, o BdP fez o mesmo ao ser cúmplice das dívidas de Berardo. E para nos situarmos bem nas datas, recordemos que tudo começou com Vítor Constâncio como governador do BdP em 2008, sendo que o dossiê passa para Carlos Costa, atual governador, em 2010. Pois bem, desde o início do seu mandato que as dívidas de Berardo deveriam estar reconhecidas a 100%. E recordemos notícias recentes relativas aos grandes devedores da Caixa, onde só metade da realidade de Berardo é conhecida.

O negócio político serve para encobrir tudo isto. Uma vergonha nacional. E se recuarmos a 2007, ainda temos vivo na memória a cedência da coleção Berardo ao Centro Cultural de Belém, depois a renúncia ao cargo de presidente do gestor Mega Ferreira por não concordar com nada daquilo. A cedência fez-se e a ideia passada para o exterior é que tudo correu “às mil maravilhas” para o Estado porque obteve uma coleção de borla, mas a verdade é que o proprietário da coleção viu a mesma valorizar ao longo dos anos sem qualquer despesa de manutenção, vigilância ou seguros.

Em nota de rodapé, apenas falta relembrar que a cedência ao CCB aconteceu no verão de 2007, o mesmo ano em que Berardo cedeu os votos ao grupo de ex-primeiro-ministro Sócrates para capturar o BCP e derrubar Jardim Gonçalves. Nada aconteceu por acaso. Pelo contrário, tudo tem uma sequência e uma relação de causa e efeito.

2. O tema das relações familiares no Governo vai entrar na fase do desanuviamento. Vão-se proibir convites à família, mas vão continuar os convites a amigos com família e à família dos amigos.