A expressão que dá o título a este artigo tem sido bastante utilizada pelos diferentes responsáveis políticos e líderes das instituições financeiras. Como recordou recentemente a revista “The Economist”, o “whatever it takes” surgiu em julho de 2012, quando Mario Draghi – na altura ainda presidente do BCE – prometeu que o banco central faria tudo o que fosse necessário para garantir a sobrevivência do euro como moeda comum europeia.
A frase teve impacto mas foram as ações que lhe garantiram a eficácia, nomeadamente a compra de dívida soberana que acalmou os mercados financeiros.
Agora, por razões óbvias, o “custe o que custar” regressou em força, proferido por líderes políticos nos diferentes países e por responsáveis das instituições financeiras. Como também realça a “The Economist”: “Em 17 de março, os líderes dos países do G7 prometeram fazer o que fosse necessário para alcançar um forte crescimento.
Quando a Reserva Federal dos EUA se comprometeu a comprar quantias ilimitadas de dívidas soberanas em 23 de março, isso foi descrito como o seu próprio momento ‘whatever it takes’. Poucos dias depois, os líderes dos países do G20 prometeram não poupar esforços para proteger vidas e meios de subsistência. Rishi Sunak, o chanceler britânico do Tesouro, usou a frase, assim como políticos em Espanha e Itália”. E, acrescentaria eu, Portugal.
Sucede que já todos percebemos que o “custe o que custar” custará mesmo muito. O barómetro da Ordem dos Economistas, que reúne trimestralmente a opinião dos seus membros, divulgou esta semana que “haverá uma forte deterioração das contas públicas, conduzindo o défice para valores elevados, possivelmente acima dos 5% ou mesmo próximo dos 10%. Se os atuais níveis de dívida pública já apresentam perigo de sustentabilidade, as consequências desta crise, que levará a um aumento do volume da dívida, poderão traduzir-se, em última instância, numa nova crise das dívidas soberanas e na necessidade de um novo resgate financeiro”.
E, como também afirmam, todos os custos referentes a medidas de estímulo económico que forem agora adotadas “serão garantidamente imputados mais tarde sob a forma de subsídios de desemprego, abrandamento da economia, redução da receita fiscal, aumento dos custos de financiamento, etc.”.
É por isso que, a nível nacional, é fundamental que exista transparência do lado do Governo quanto ao impacto dos diferentes cenários de decisão e quadros de medidas a adotar. Até agora, os anúncios têm-se sucedido, com medidas surgindo depois de outras medidas, sem que seja definido um enquadramento estável dos apoios de uma vez por todas e clarificado o que tudo isto significa, não apenas em termos macroeconómicos, mas também para as empresas e cidadãos no médio prazo.
Dizer “custe o que custar” soa sempre bem. Mas, como no caso de Draghi, só funciona se na prática as ações seguirem as palavras com igual eficácia.
Os laboratórios Johnson & Johnson anunciaram esta semana que estão a desenvolver uma potencial vacina para a Covid-19, que deverá começar a ser testada em seres humanos no mês de setembro. A empresa diz que a vacina poderá estar disponível já no início de 2021. Esperemos que sim e que a sua eficácia seja rapidamente comprovada, para bem de todos.