É comum dizer-se que Portugal é um país de emigrantes. E assim é, porque profundas vagas de emigração em momentos concretos e definidos da nossa história, com diversos destinos e de variada tipologia, deram dimensão significativa às Comunidades Portuguesas pelo mundo, gerando inclusivamente, desde então, mais do que segundas e terceiras gerações.

Portugal terá cerca de 2,5 milhões de habitantes a residir no estrangeiro de forma permanente. O mesmo é dizer que acima de 20 a 25% de pessoas nascidas em Portugal se encontram a residir no estrangeiro há, pelo menos, mais de um ano. Mas acrescente-se, por ser verdade, que temos mais de 5 milhões de portugueses e lusodescendentes no Mundo. É assim um “pequeno país” com uma “gigante diáspora”. E o seu número é muito significativo nos quatro cantos do mundo, em países como sejam a França, Suíça, EUA, Canadá, Brasil, Espanha, Alemanha, Reino Unido, Luxemburgo, Venezuela, Bélgica, África do Sul, Austrália e outros. No cabo ou mesmo em terras para lá do fim do mundo há um português que nos fala em português.

Muitos dos que permanecem fora ou têm a intenção de regressar são empreendedores e podem igualmente ser influenciadores dos nossos interesses enquanto nação. À facilidade de integração dos emigrantes portugueses nos países de acolhimento, acrescem os factos evidentes de não perderem as ligações ao chão e à cultura portuguesas, assim como o de muitos deles terem passado a ter influência, quando não mesmo representação, nas instituições desses países.

É mais do que manifesto o potencial estratégico do empreendedorismo da nossa Diáspora, com capacidade de investimento e iniciativa, podendo contribuir – se clarificados os incentivos e os apoios, para a tão necessária ajuda ao desenvolvimento do país. É decisivo mobilizá-los, portanto, para além de tudo o mais, enquanto agentes económicos, na procura de oportunidades a níveis nacional, regional e local.

Porque este pode ser o momento para testar, ao limite, a disponibilidade para construirmos uma sociedade verdadeiramente inclusiva. Não basta dizer e fazer – de forma pífia e atamancada tantas vezes, a integração pela participação que se esgota nos atos eleitorais. A cidadania política pode ter sido, é certo, um importante desbravar de caminho para garantir o vasto leque das restantes dimensões da cidadania que agora se impõem.

Não ter em atenção e na devida conta as Comunidades Portuguesas pelo mundo, como elementos centrais da nossa política externa (e interna), retirando-as da agenda deste tempo ou não percebendo a sua importância – passada, presente e futura, seria um erro de lesa-pátria.