O tempo presente está a ser marcado pelas guerras convencionais e não convencionais em vários continentes, chegando agora aos europeus uma realidade muito conhecida dos africanos antes e depois dos processos de independência. O fenómeno da guerra caminha de braço dado com a ideia de vidas ceifadas, vidas desacompanhadas de um registo histórico singular da sua passagem. Pensar o futuro em tempo de guerra torna-se mais difícil. A guerra é uma massa espessa que envolve todo o sentimento humano, gerando um estado de sobressalto no espírito colectivo quanto ao futuro. O discurso de guerra passou a ser normalizado pelos comentadores nas televisões, mas os povos europeus ainda não acolheram este fenómeno como parte da sua realidade concreta nem como algo sem fim à vista no curto prazo. A guerra continua a ser encarada como um acto de ficção distante da vida quotidiana. Os governos não colocaram na sua agenda política diária a questão da guerra. A guerra torna-se, assim, um assunto das elites e dos movimentos cívicos contra a guerra. A consciência da guerra chega, muitas vezes, apenas do estado de necessidade ou de urgência, com a mobilização dos jovens europeus para a guerra, sem a devida preparação militar. Antes disso, ninguém parece acreditar na guerra como uma realidade possível, encarando-a, sim, como uma ficção possível, com o escalar do conflito através da utilização de armas sofisticadas. A dificuldade de assumir a guerra é simples de explicar e de entender. A guerra não gera votos e é mesmo impopular entre os europeus, sendo, pois, difícil explicar o desvio de recursos públicos para fornecer de armamento os países europeus. Sobretudo quando a burocracia europeia continua muito preocupada com o equilíbrio financeiro das contas públicas, significando a redução do investimento público e o equilíbrio orçamental. Existe uma cultura da paz que está, fortemente, enraizada em muitos jovens europeus, dando origem ao fim do serviço militar obrigatório e ao desinvestimento nas forças armadas. A segurança europeia é assegurada pela NATO. Deste modo, introduzir o discurso da guerra no plano governamental nunca será fácil nem desprovido de custos para os governos europeus. A guerra abrirá, certamente, clivagens entre os partidos europeus, o que poderá significar uma maior polarização política numa democracia ameaçada pela extrema- -direita, que poderá utilizar o descontentamento popular para crescer ainda mais nas próximas eleições