Sendo recorrentes as discussões sobre como, nos dias que correm, os “meios de comunicação alternativos” se tornaram centrais para a percepção do espectro político global – refiro-me a realidades como o Facebook, Twitter, etc. –, o debate sobre os meios de comunicação tradicionais tornou-se mais urgente porque ainda vazio. Por exemplo, a discussão sobre o quão tendenciosos estes últimos são ou podem ser deve estar na ordem do dia.

Aliás, já neste espaço tenho procurado reflectir sobre este assunto e hoje volto “à carga”. Da literatura académica sobre os efeitos de meios de comunicação, se são tendenciosos ou não e como influenciam o comportamento político dos cidadãos, há vasto trabalho publicado (cito, a título de exemplo, Adena et. al., 2015, ou Yanagizawa-Drott, 2004).

No entanto, muitas das conclusões de trabalhos empíricos sobre esta temática ainda apresentam contradições que têm mais a ver com os impactos que essa falta de neutralidade implica e não tanto se há ou não efeitos de tal, estes estão bem documentados. As conclusões parecem surgir nas mais diversas direcções: apoio a ideias pré-definidas, mudança, ainda que pouco substancial, nas opiniões iniciais, etc.

E por que razão é que o anterior é importante, sendo que, claramente, não poderei resolver estas questões aqui e agora? Porque talvez andemos todos com argumentos mais ou menos falaciosos sobre o papel dos meios de comunicação numa sociedade livre e democrática.

Ou seja, advogamos que os meios de comunicação social, mais ou menos transparentes ou mais ou menos tendenciosos, ajudam a construir imagens de políticos, ideologias e realidades sociais, mas não sabemos, ao certo, se a população vai reagir positiva ou negativamente a estas construções. Talvez seja por isso que verificamos amiúde que a realidade das percepções da população toma rumos que estávamos longe de imaginar.

Isto de compreendermos como a opinião pública se vai propagar e que caminhos vai tomar está longe de ser uma dedução, ou seja, não só não é linear como não existem ilações isentas de erros cognitivos.

Mas a “caixa de pandora” que os meios de comunicação abrem não é forçosamente uma realidade má, muito embora as suas dinâmicas devam ser mais escrutinadas pelos intervenientes dos meios de comunicação nos seus diversos níveis e também pelos políticos que tantas vezes ditam a agenda.

O espaço público é, ou deveria ser, um espaço de responsabilidade e há muitos agentes sociais que têm a ilusão de controlar os desenvolvimentos da interpretação das suas palavras e acções… nada mais ingénuo!

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.