Há uns meses tive o gosto de fazer uma conferência num evento na Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução com este mesmo título. Muitos de nós, gostaríamos que uma lei, regulamento ou procedimento fosse lido, compreendido e executado, resultando no objectivo que pressupôs a sua criação. Idealmente, que estas disposições nos facilitassem a vida ou melhorassem o ambiente para a nossa actividade profissional e económica.
Acontece que entre a legislação e o resultado da mesma está o comportamento humano e nem sempre as Leis são desenhadas de acordo com o conhecimento científico sobre comportamento humano. Legislar é querer moldar comportamentos, embora pelo menos desde Aristóteles exista alguma consciência das limitações das Leis para atingirem os objectivos a que se propõem.
Acresce que, se desde meados dos anos 60 a psicologia social tem contribuído com muita investigação com impacto na organização social, ambiente e economia, foi já este século que se ganhou real consciência das limitações dos modelos racionais de explicação do comportamento económico e se iniciou uma maior integração de conhecimento científico da psicologia na economia e na actividade financeira, havendo mesmo dois prémios Nobel da Economia a psicólogos: Kahneman (2002) e Thaler (2017). Simultaneamente, este conhecimento científico chega também à justiça, às Leis e, mais globalmente, ao funcionamento das instituições numa mais efectiva simbolização e interiorização.
A psicologia traz-nos conhecimento (e método) sobre como (e porquê) nos comportamos de determinada forma, sobre como tomamos decisões, nos motivamos, pensamos ou sentimos. A Economia Comportamental, disciplina que aplica conhecimentos da psicologia sobre o comportamento humano para explicar a tomada de decisão na economia ou os nudges, definidos por Richard Thaler e Cass Sunstein como qualquer aspecto da arquitectura de uma decisão que altere o comportamento das pessoas de uma forma previsível sem interditar outras opções ou mudar significativamente os incentivos económicos, estão à disposição de qualquer organização para tornar-se mais eficiente e sustentável.
Um exemplo: a Autoridade Tributária simplificou sistematicamente a vida aos contribuintes de modo a ser mais eficaz na cobrança de impostos (win-win), entre outros avançando com o pré-preenchimento das declarações de impostos. Menos informação, mais saliência do que é importante, preenchimento por defeito. Não é por acaso… é ciência aplicada. É, em parte significativa, psicologia aplicada.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.