Normalmente, quando se pensa em Democracia, pensa-se em eleições livres. Mas, na verdade, a participação política dos cidadãos em democracias vai além da ida às urnas. Contudo, o decréscimo na participação eleitoral nos países democráticos do Ocidente nos últimos anos tem gerado preocupações, quer nos académicos que estudam estes temas, quer nos decisores políticos democratas.
Ainda assim, temos assistido a novas formas de participação por parte dos cidadãos, que se misturam com maneiras mais clássicas de participação: se, por um lado, continuamos a contar com actividades que se enquadram com a participação eleitoral, militância, voluntariado em campanhas eleitorais, contamos ainda e, quase por oposição, à assinatura de petições, participação em manifestações, até à participação em fóruns online, moderados ou não, só para apresentar ao leitor alguns exemplos. Além disso, contamos com aqueles que têm uma presença activa nas reuniões de cidadãos e representantes políticos, como as reuniões das assembleias municipais, por exemplo.
Hoje em dia, estudar as acções políticas dos cidadãos que se têm agrupado naquilo a que, num sentido lato, chamamos participação política, implica diferenciar distintos perfis de cidadãos que incorporam diferenciadas combinações de caraterísticas de participação.
E por que razão é que estes perfis de combinações de características de participação podem ser importantes? Porque, muito frequentemente, nos dão boas indicações que ajudam a explicar fenómenos relevantes a nível social, económico e político: populismo, erosão da democracia, autoritarismo, instabilidade política, paradoxos políticos, e por aí diante.
Se ligarmos o que referi anteriormente às motivações que levam a um certo tipo de participação política (e, idealmente, a um certo tipo de comportamento), então, podemos mais claramente aferir porque é que grupos de cidadãos parecem mais atraídos para determinados tipos de participação e, adicionalmente, como é que isto poderá reflectir-se nas suas preferências e, logo, no seu comportamento.
Estudar dinâmicas políticas em curso tem as dificuldades acrescidas dos imprevistos. A melhoria das ferramentas teóricas de análise, testadas depois em estudos empíricos, são fundamentais para percebermos o que nos rodeia. Perceber o que nos rodeia pode parecer banal, mas sem diagnóstico dificilmente conseguiremos travar a erosão do tecido democrático. Se for isso que pretendemos enquanto sociedade, claro.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.