O nosso papel como diplomatas exige “vestir a pele” de outro país e ter uma compreensão profunda da sua cultura e do seu povo. Isto obriga-nos a passar menos tempo sentado à secretária em Lisboa e mais tempo a viajar pelo vosso belo país em busca de novas oportunidades, para criar laços entre os nossos países. Na semana passada, eu e a minha equipa estivemos no Porto.

Da Ribeira até à Foz, fazendo uso das palavras da grande canção de Rui Veloso, a riqueza dos laços comerciais do Reino Unido com o norte de Portugal faz com que nunca faltem conversas interessantes no Porto e nos seus arredores.

São cerca de 150 as empresas portuguesas com investimentos significativos no Reino Unido, representando um leque diversificado de setores. Das energias renováveis, indústria agroalimentar e farmacêuticas à construção, comunicação e teconologias de informação. Muitas delas têm as suas origens no norte de Portugal, e todas desempenham um papel fundamental na nossa prosperidade partilhada.

O comércio entre o Reino Unido e o Porto tem séculos. Tive a oportunidade de falar com o Presidente da Câmara Municipal, Rui Moreira, e com os líderes empresariais da cidade, sobre formas de cimentar ainda mais esta rica história. As empresas enfrentaram desafios significativos nos últimos três anos, incluindo uma pandemia, a invasão da Ucrânia pela Rússia e o ajustamento aos novos acordos comerciais entre o Reino Unido e a UE. Mas, apesar desta turbulência sem precedentes, o Reino Unido continua a oferecer um ambiente robusto e favorável às empresas para se expandirem, negociarem e investirem.

As exportações do Reino Unido para a Europa contabilizaram-se em 387 mil milhões de libras nos 12 meses até final de setembro de 2022. Corresponde a um aumento de 26%, nos preços correntes, face aos 12 meses anteriores, e 12% superior ao máximo anterior, verificado em 2019.

O Porto tem um ambiente competitivo e favorável aos negócios, que tem tido um crescimento constante graças à sua abertura à inovação, a um ecossistema próspero para startups e a uma mão de obra altamente qualificada e flexível. Por isso, não é de estranhar que muitas empresas britânicas tenham escolhido o Porto como sede para as suas operações, nomeadamente no setor das FinTech. Portugal tem vindo a florescer como hub da FinTech na Europa e as empresas britânicas estão a desempenhar o seu papel ao criarem aqui centenas de novos postos de trabalho.

As universidades e os centros de investigação de alta qualidade do Porto são, também, um ingrediente chave para o seu sucesso. Organizámos, juntamente com o i3s e a Universidade do Porto, o seminário “Portugal e Reino Unido: a Ciência e a Antiga Aliança”, durante o qual apresentámos os resultados preliminares do estudo “Mapeamento das colaborações científicas entre o Reino Unido e Portugal”, produzido pela PARSUK.

Este estudo permitiu evidenciar a relação de proximidade entre os nossos dois países, identificando, no período 2014-2020, cerca de 1500 projetos entre entidades portuguesas e britânicas. Estes envolveram um financiamento total de 2,5 mil milhões de euros, traduzindo-se em inúmeros artigos científicos e no registo de pelo menos 40 patentes.

Também promovemos um inesperado concerto da Film Band de grandes canções britânicas no Mercado do Bolhão. As indústrias criativas do Reino Unido contribuem anualmente com 116 mil milhões de libras para a economia do Reino Unido, e a indústria musical britânica registou exportações de 2,3 mil milhões de libras em 2020.

As perspetivas económicas e políticas globais continuam a constituir um desafio e a concorrência dos parceiros internacionais é forte. Mas quando voltei a Lisboa, depois de dois dias entusiasmantes no norte, o meu sentimento primordial era de otimismo. O dinamismo económico e a energia do Porto, apoiado nas nossas fortes ligações históricas com o norte de Portugal, são uma grande plataforma de colaboração para o futuro.