Em tempo pré-eleitoral, já se ouve aqui e ali a conversa em torno da “vantagem do incumbente”. Ou seja, da vantagem para a reeleição por parte do candidato que já foi eleito para essa posição no mandato anterior.
Pessoalmente, fico sempre agradada quando ideias, conclusões e teorias da Ciência Política saltam para a ribalta da esfera pública. Se toda a partilha de informação e discussão da mesma faz com que, cerca de dois anos de pandemia depois já percebamos um pouco mais como os vírus actuam, por exemplo, porque não abraçar tal partilha para outras áreas do saber? Obviamente que tal não se deve, nem pode, substituir ao conhecimento gerado por aqueles que fazem investigação e trabalham nestas problemáticas: nenhum de nós se torna virologista desta forma, nem cientista político.
Sabemos que a vantagem do incumbente é um fenómeno bem conhecido, estudado e teorizado na política norte-americana. Por exemplo, no caso do Congresso dos EUA existe uma grande estagnação, o que se reflecte num elevadíssimo rácio de reeleição de incumbentes. Falamos em cerca de 90% contra os restantes não reeleitos em algumas eleições.
Mas, como em qualquer ponto que a Ciência Política analise, não encontra perfeita aceitação e muito menos prova. Em termos muito gerais, devemos encontrar essa tal vantagem do incumbente porque, e por norma, encontramos no incumbente vs. não incumbente diferenças relevantes para a reeleição do primeiro e para a não eleição do segundo.
Claro que isto não se comprova em todos os momentos, mas são elas: a) o incumbente pode ser em média melhor do que o(s) outro(s) candidato(s), afinal já ganhou uma vez, pelo menos; b) quando se tem um mandato, tem-se maior acesso a recursos, o que se pode converter em votos, e; c) quem procura ser eleito a primeira vez (o challenger) pode ser, em média, pior do que o incumbente.
Portanto, muitas poderão ser as vantagens dos incumbentes e uma vez que apresentam variadas origens, também elas podem ter variados efeitos: aprendizagem, sistema político, momento político-económico, etc. Adicionalmente, o incumbente – especialmente quando não falamos de políticos em cargos muito centrais como o de primeiro-ministro – têm mais facilidade em ver o seu nome reconhecido, tal como têm acesso mais fácil a financiamentos para a campanha e a utilizar os recursos do Estado.
Porque muitos são os motivos que levam a que resultados eleitorais não sejam exactamente previstos, especialmente em eleições com candidatos muito próximos, não é de uma lógica linear. No caso de Portugal, onde existe uma crescente polarização dos eleitores e uma baixa participação nas urnas, sem esquecer que ainda enfrentamos uma pandemia, os resultados das eleições legislativas de 30 de Janeiro de 2022 estão bem longe de ser “favas contadas”.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.