É inquestionável que a economia portuguesa se encontra numa fase mais sustentável, com um crescimento acima do projetado, um défice orçamental em queda e um mercado de trabalho mais robusto e dinâmico. Apesar destes progressos, a elevada dimensão da dívida pública continua ser um obstáculo para uma revisão favorável por parte das agências de rating, impedindo desta forma que Portugal aceda aos benefícios tangíveis de uma melhoria de notação especulativa para investimento.

Ainda que se tente diabolizar agências como a Moody´s, Standard & Poor´s e Fitch, são estas nas quais os investidores confiam no momento de tomar decisões sobre os seus investimentos, ao determinarem a qualidade creditícia dos emitentes, sejam eles países ou empresas.

Portugal, se quer melhorar a sua reputação no mercado, deve seguir de uma forma articulada as recomendações que todas estas agências têm vindo a enumerar, e se não eliminar, pelo menos a mitigar, os aspetos negativos enunciados: Redução do nível de endividamento. A dimensão da dívida pública Portuguesa continua a ser avassaladora face à dimensão do país, tendo atingido em junho de 2017, os 249,1 mil milhões de euros, sendo o 5º mês consecutivo acima dos 130% do PIB, destacando-se adicionalmente e de uma forma negativa, a dependência do financiamento externo para o seu refinanciamento.

É imperativo continuar o esforço de consolidação das contas públicas, passando o saldo primário, que exclui os encargos com juros da dívida pública, de 2,2% do PIB para 2,8%, situação que, aliada a um crescimento real do PIB na casa dos 1,5%, iria permitir uma diminuição do endividamento público em dois pontos percentuais ao ano. Em dez anos a dívida pública tenderia a aproximar-se dos 110% e a dívida líquida, sem contar com a almofada de liquidez, de 100% do PIB.

Desta forma, Portugal conseguiria iniciar uma convergência para níveis de dívida mais confortáveis, apresentando-se melhor preparado para os anos mais exigentes em termos de reembolso que começam a partir de 2018.

Outros dois dossiês que devem ser ultrapassados são, por um lado, a adoção de medidas que permitam aos bancos nacionais reduzir o nível de crédito malparado nos seus balanços, situação que condiciona a cedência de empréstimos à economia, e, por outro, a resolução dos diferendos com as casas de investimento Pimco e Blackrock.

A passagem de cinco linhas de obrigações seniores do Novo Banco para o BES causou um profundo mal-estar nestas duas casas de investimento e, principalmente, perdas avultadas, levando à sua saída de Portugal em operações de colocação de dívida. Um acordo traria benefícios substanciais para a reputação de Portugal e beneficiaria os contribuintes na forma de custos de financiamento mais baixos dado o seu peso relevante no mercado.

É importante alterar o paradigma e olhar para as agências de rating como parte da solução e não como parte do problema. Ao sinalizarem as fragilidades da economia portuguesa, estão a incentivar a mudança de comportamentos e um progressivo reforço das condições estruturais, permitindo uma melhoria na perceção do risco por parte de todos os atores do mercado e premiando aqueles que melhor trilharem o seu caminho.