O Primeiro Balanço Global das Nações Unidas é claro: o mundo não está a fazer o suficiente no combate às alterações climáticas. Publicado recentemente, este documento será a base da discussão que terá lugar em novembro, no Dubai, na próxima COP 28 (Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas) e lança alertas que a todos nos deveriam preocupar. 

O Acordo de Paris, de 2016, foi claro ao assumir a centralidade da descarbonização das economias mundiais no sentido de resgatarmos o planeta de um futuro catastrófico. Mas o futuro que vislumbramos hoje, volvidos estes anos, ganhou urgência porque não estamos a fazer o suficiente, com a intensidade e a velocidade necessárias. Aproximamo-nos da reta final de 2023 com episódios climáticos extremos que têm condicionado não só a vida de milhares de pessoas em todo o globo, mas, também, a economia e o desenvolvimento globais. 

De acordo com este balanço da ONU, que a todos importa, vivemos um tempo de urgência. O aumento do uso de energias renováveis, a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e a aplicação ambiciosa de medidas para combater as emissões de GEE provenientes da indústria, dos transportes, dos edifícios e de outros sectores, assim como nas suas cadeias de valor, são fatores indispensáveis para atingirmos as necessárias emissões zero. Precisamos de soluções assentes na ciência e na investigação, na inovação e na tecnologia. Os esforços, por isso, devem estar concentrados no desenvolvimento das energias renováveis, em particular daquelas que permitem acelerar a descarbonização no imediato. É aqui que surgem os gases naturais renováveis – como o biometano, metanol e hidrogénio – enquanto energias de transição de excelência no decurso das próximas duas décadas. 

Gases renováveis com aplicação na mobilidade e nos transportes – um dos setores que mais energia consome e que mais polui –, na logística e na indústria. Gases renováveis que permitirão ajudar a conter emissões e descarbonizar já, com custos competitivos face a outras energias renováveis. 

No quadro do  European Green Deal, a Europa comprometeu-se a atingir a neutralidade carbónica até 2050 e um dos principais pilares desse objetivo é o transporte de mercadorias, pelo que, tornar este setor neutro em emissões poluentes é um desafio que temos de enfrentar. Isto numa altura em que, em Portugal e de acordo com as estimativas mais recentes da Zero, as emissões de gases geradas pelo transporte rodoviário, entre julho de 2022 e julho de 2023, aumentaram 6,2% (totalizando a emissão de 18,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono) em relação ao período pré-pandemia. Os motores de combustão interna, utilizando gases renováveis como o biometano, são neutros do ponto de vista das emissões de carbono e são a porta da entrada para a mobilidade a hidrogénio verde.   

O setor do gás está hoje preparado para uma transformação rápida e está empenhado na segurança energética e no aproveitamento total – circular – dos recursos e, ainda, no combate à pobreza energética, elemento central das políticas afirmadas pela ONU. Prova disso é o crescente desenvolvimento de soluções técnicas – como as que permitem produzir biometano a partir de resíduos urbanos e outra biomassa – com capacidade produzir combustível 100% renovável capaz de acelerar a descarbonização do transporte pesado em Portugal. Hoje, o transporte pesado movido a gás no nosso país deve representar, talvez, cerca de 5% do total. Com as tecnologias desenvolvidas nos últimos anos, com a capacidade instalada e os processos em curso de produção de gás verde, 100% renovável, esta capacidade pode aumentar para 20 a 30% já no próximo ano. Isto sem impactos financeiros significativos na distribuição já que as redes estão capacitadas para o receber sem que sejam necessários investimentos na rede de gás existente. 

As infraestruturas de gás são ativos muito relevantes que devem ser valorizados e ampliados, para promover a produção de gases renováveis no contexto da economia circular, valorizando recursos endógenos sejam estes industriais, agropecuários ou domésticos como matéria-prima para a produção de energia.

As empresas energéticas têm a responsabilidade de apresentar soluções que contribuam para esta aceleração. Já não basta evitar ou compensar as emissões. É preciso restaurar o planeta, produzir impacto positivo e descarbonizar, de forma circular e renovável. A energia verde, o gás verde, com emissões zero, é urgente em tempo e em quantidade. E é possível, hoje. Assim saibamos aproveitar e dar gás a esta agenda de aposta nas energias renováveis de transição. Por um melhor clima. Por um melhor futuro. Por um melhor planeta. Por todos.