Muito se tem falado, e justificadamente, do sucesso das startups portuguesas e das oportunidades que se abrem, no nosso país, à criação de negócios na economia digital. Mas não devemos ignorar que o nosso tecido empresarial é constituído maioritariamente por PME dos setores tradicionais, que, na verdade, são as grandes responsáveis pelo investimento, pelas exportações, pelo emprego e pela inovação em Portugal. Ora, esta realidade é muitas vezes esquecida.
Há muitas PME nacionais que apresentam grande potencial de crescimento, necessitando, porém, de serem inseridas num ambiente que favoreça o seu desenvolvimento e a sua sustentabilidade. Apesar da qualidade dos seus produtos e serviços, estas PME de elevado potencial carecem muitas vezes de escala, massa crítica, mentoria e capital. O nosso país deve, pois, ser capaz de proporcionar os meios que capacitem as PME e lhes permitam desenvolver os seus processos de escalabilidade.
O primeiro problema a atacar é, a meu ver, a falta de escala de algumas destas PME de elevado potencial. Esta debilidade pode ser minorada com parcerias empresariais, que permitam a partilha de tecnologias, infraestruturas, know-how e capital humano entre PME do mesmo setor. Esta ideia entronca numa lógica de clusterização da economia, consubstanciada na criação de polos de competitividade sectoriais.
De resto, Portugal tem uma experiência consolidada no desenvolvimento de clusters. Importa agora aprofundar a nossa política de clusterização, de modo a que os polos de competitividade adotem uma gestão mais profissionalizada, definam estratégias orientadas para a internacionalização, reforcem as atividades de I&D+i, fortaleçam os modelos de governance e atraiam mais investimento.
Na cooperação também está a chave para criar massa crítica nas PME, designadamente ao nível das competências tecnológicas requeridas pela transformação digital da economia. Defendo, neste ponto, a aplicação do conceito de cocriação digital, que significa estabelecer parcerias tecnológicas entre PME e startups para, em conjunto, desenvolverem sistemas de informação, softwares ou aplicações. Deste modo, as PME passam a beneficiar das competências tecnológicas das startups, ao passo que as startups ganham um parceiro, as PME, com acesso a clientes, conhecimento do mercado, experiência de gestão e perspetivas de internacionalização.
A cocriação digital vai igualmente ao encontro da necessidade de intensificar o conhecimento e a inovação nas PME. Mas importa também reforçar o know-how através de mentoria empresarial, para que as PME ganhem competências estratégicas e sejam devidamente orientadas em processos de escalabilidade. Com este propósito, a Câmara Municipal do Porto e a ANJE têm em curso um programa pioneiro em Portugal. Trata-se do ScaleUp Porto – The Growth Champions, que visa, justamente, capacitar as PME de elevado potencial com know-how (gestão, marketing, vendas, inovação, pricing, branding, etc.) que promova o seu crescimento sustentado.
Por fim, é fundamental alavancar as nossas PME tendo em conta as suas necessidades de investimento em recursos humanos, tecnologia, inovação e internacionalização. As PME precisam de ganhar músculo financeiro, circunstância que obriga, face às presentes dificuldades de crédito, a uma diversificação das soluções de financiamento das empresas. Os instrumentos públicos de capitalização (no quadro do Portugal 2020), as linhas de crédito bonificadas, os sistemas de garantia mútua e o mercado de capitais têm-se revelado insuficientes para garantir níveis adequados de financiamento às PME. Por conseguinte, é necessário um esforço de atração de investidores privados, semelhante ao que tem sido feito para as startups.
Os principais players da nossa economia, desde decisores públicos e associações empresariais aos próprios empresários, devem concentrar energias na captação de financiamento. Temos de saber sensibilizar os investidores (nacionais e internacionais) para as potencialidades das nossas PME, designadamente com eventos e roadshows onde as empresas possam expor os seus fatores de competitividade a eventuais financiadores.