Crescem as acusações de que Portugal está atrasado no lançamento da tecnologia 5G e há até o receio de que o processo possa ficar comprometido por falta de espectro disponível para a quinta geração de internet móvel. Operadores e empresas de telecomunicações têm subido o tom das críticas à forma como o país está a avançar para o 5G, embora a autoridade reguladora das comunicações eletrónicas, a Anacom, desvalorize as preocupações manifestadas pelo sector e o Governo garanta que as metas europeias vão mesmo ser cumpridas.

Em princípio, o espectro para a rede 5G vai a leilão em abril de 2020. E, de facto, as metas europeias até nem são muito ambiciosas. Bruxelas exige apenas que, até ao final de 2020, pelo menos uma cidade em cada Estado-membro tenha cobertura de internet móvel de quinta geração. Mas há a questão da escassez de espectro a ensombrar o processo e o risco de, para recuperar do alegado atraso, se avançar para o 5G sem a devida sustentação ao nível das infraestruturas e do know-how tecnológico. Importa lembrar que noutros países o espectro já foi leiloado e o desenvolvimento da rede está, por isso, a ser feito em ambiente real.

A confirmarem-se os receios de operadores e empresas de telecomunicações, Portugal perde o élan revelado na implementação das anteriores gerações de internet móvel. Fomos dos primeiros países europeus a adotar as tecnologias 3 e 4G, que, aliás, conheceram uma grande recetividade entre os portugueses. Os consumidores nacionais são early adopters de tecnologia, em particular de telemóveis, cuja taxa de penetração é muito elevada entre nós. Acresce que os utilizadores de internet estão a aumentar no nosso país e a privilegiar o acesso móvel.

Portugal não pode perder o comboio do 5G. A maior velocidade, baixa latência e capacidade de programação da quinta geração de internet móvel representam um novo mundo de potencialidades tecnológicas. O acesso com mais qualidade à internet proporcionado pelo 5G vai permitir criar novos serviços on-line e melhorar os já existentes, além de impulsionar o desenvolvimento de aplicações e de tecnologias imersivas (realidade virtual e realidade aumentada, por exemplo). Ou seja, são evidentes as vantagens quer para os utilizadores, quer para as empresas que usam tecnologias digitais ou desenvolvam negócios nesta área.

No caso das empresas, o 5G vai ter um impacto significativo no nosso ecossistema de empreendedorismo e inovação e na transformação digital do tecido produtivo. Todos temos consciência de como são importantes as tecnologias digitais para os sectores de valor acrescentado e para a transição dos sectores tradicionais para a Indústria 4.0, não restando por isso outra alternativa ao país se não estar na vanguarda da internet móvel.  Quaisquer atrasos e ineficiências na implementação da rede 5G terão consequências na especialização, competitividade, produtividade e internacionalização da nossa economia.

Este é, pois, um assunto prioritário para o país, que deve concentrar esforços na adoção rápida e sustentada do 5G.