Os alertas não são recentes, mas os últimos acontecimentos na Itália vieram confirmá-los.
Antigos fantasmas retomam vida aos poucos, levando os mais velhos a recordar um passado não tão longínquo assim, em que a Europa mergulhou numa das páginas mais negras da sua História. Os fenómenos da xenofobia e da intolerância são epidémicos e alastram rapidamente, ignorando fronteiras. Ignorar as recentes posições da Itália relativamente ao drama dos refugiados é fomentar o contágio a outros países nos quais a extrema direita ganha terreno, fomentando ideias antigas de supremacia do homem branco, europeu e de raiz judaico-cristã.
O que assistimos na semana passada, o braço de ferro entre a Itália e Malta perante o desespero de seiscentos seres humanos que pediam apenas um porto seguro onde pudessem viver, representa um retrocesso civilizacional que não se ficará apenas pela questão migratória.
Mas analisemos esta de forma objectiva e estejamos atentos aos sinais.
Um pouco por toda a parte incluindo Portugal, começam a surgir vozes que questionam o apoio dado a refugiados e imigrantes, comparando-o com o atribuído “ aos nossos”.
Como se pudesse haver comparação entre o drama de quem deixa tudo para trás, quem foge ou quem procura apenas uma vida melhor para si e para os seus (legitimo, não?) e a população europeia que vive no limiar de pobreza! Esquecemos muito facilmente o que damos por adquirido: uma casa, escola, hospitais, paz! Olhamos para os nossos menos protegidos, para os sem-abrigo, para os bairros sociais e consideramos a situação dramática. E é! Mas até o drama tem vários níveis e este não é, nem de longe nem de perto o pior. Além de que a Europa necessita desta imigração para se renovar, para progredir e crescer. Medidas musculadas que estabeleçam entrave a este fluxo, apenas aumentam a ilegalidade e fomentam as redes de tráfico. Malta que tem no seu território a sede da EASO (European Asylum Support Office) ou seja a Agência Europeia para o Asilo, teve nesta situação um papel no mínimo incoerente e inexplicável que deveria implicar uma análise por parte da Comissão Europeia face ao seu papel no processo de Asilo europeu.
Da Itália infelizmente, já nos vamos habituando a posições deste calibre de intolerância. Desiluda-se quem se pensa a salvo desta onda . Como dizia o poeta “ Vieram pelos judeus, mas eu não era judeu, vieram pelos comunistas mas eu não era comunista. Agora vêm por mim…”
Passou quase despercebida a Lei que na Itália proíbe que um Maçon faça parte do governo. Imaginem… por cá teríamos ficado sem Serviço Nacional de Saúde apenas como exemplo. Hoje proíbe-se um Maçon, amanhã um comunista, depois um negro, um árabe… por este caminho e em pouco tempo a Itália arrisca-se a ver ressurgir um novo Duce! E como a política não raras vezes é epidémica, arrastando-se o contágio a outras regiões o já ténue sonho europeu poderá facilmente tornar-se num pesadelo.
Felizmente que em paralelo surgem posições de grandeza e que demonstram que as políticas não são todas iguais. O recente governo socialista de Espanha deu prova disso abrindo os braços aos que precisam, num claro exemplo de humanitarismo. Quanto aos outros, aos que, embora europeus não seguem os embrionários cânones da “supremacia do homem branco”, que alguns pretendem ressuscitar, o momento é de cerrar fileiras e de lutar pelos princípios da Liberdade Igualdade e Fraternidade nos quais a Europa dos nossos dias foi alicerçada, e reconhecerem-se como tal.