“Descarbonizar” é, sem dúvida, a palavra do momento ou, aliás, a palavra da urgência. Após anos a trilhar um caminho que é agora marcado pelas consequências das nossas ações, é difícil não procurar pela chave da Caixa de Pandora numa tentativa de remediar o que foi feito. No entanto – e por muito que defenda a urgente necessidade de sermos neutros em carbono de forma transversal no nosso quotidiano –, devemos procurar “descarbonizar” além do que já é expectável. Falo, portanto, de todos os outros pilares da economia que não podem esperar pela promessa de um amanhã verde, como é o caso da mobilidade.

É comum inserir este setor dentro da “caixa” económica sem nos apercebermos do seu peso no dia a dia das comunidades e o impacto que tem nos seus futuros. Portanto, desafio-o a olhar para a mobilidade como uma pedra basilar no caminho que Portugal está a construir.

A mobilidade estende-se além da forma como nos movimentamos, tanto dentro como fora das cidades: é a forma como chegamos ao mundo e como o mundo nos chega a nós. Trata-se da acessibilidade a outras comunidades, bens e serviços, que não seria possível da forma como a conhecemos sem todos os desenvolvimentos alcançados até agora. Ora, se a mobilidade representa tamanha importância, não seria ideal procurar descarbonizá-la com o apoio de soluções energéticas capazes de desencadear a verdadeira mudança de paradigma?

A bioenergia avançada entra neste cenário. Com um potencial de redução de emissões entre os 84% e os 97% e uma capacidade de implementação eficaz nas infraestruturas pré-existentes, esta fonte pode impulsionar a transição de que tanto necessitamos.

Afinal, não se trata apenas de nos assegurarmos que os veículos que usamos são o mais ambientalmente amigáveis possível, mas também de garantir um amanhã próspero e a construção de sociedades mais resilientes e inclusivas. A incorporação da bioenergia avançada aliada às demais soluções que o mix energético nos oferece é, então, a chave que há muito carecemos. Contudo, isto não implica que a mesma esteja desnuda de desafios.

O caminho rumo à mobilidade verde alimentada pela bioenergia avançada ainda é uma jornada em construção, na qual precisamos de semear investimentos em infraestruturas de produção e distribuição de biocombustíveis, aliados a regulamentações claras e incentivos financeiros robustos para impulsionar a produção e o consumo desta solução energética. E à medida que avançamos, a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico devem florescer, otimizando os processos de produção e a eficiência dos biocombustíveis de segunda geração, por exemplo. Mas, acima de tudo, é necessário despertar consciências, estimulando a sociedade e empresas a abraçarem a bioenergia avançada, fomentando uma adesão mais ampla.

Portugal está na vanguarda desta revolução energética, demonstrando que a mudança não só é possível, mas também prática: projetos visionários, inovações tecnológicas e apostas em medidas catalisadoras da descarbonização, como foi o caso do Plano de Ação para o Biometano (PAB), evidenciam o compromisso do país em “acabar” com os combustíveis fósseis e abraçar uma mobilidade mais limpa.

Num mundo onde cada quilómetro conta, é vital hastear a bandeira da mobilidade verde, procurando ativamente trazer a sustentabilidade para as nossas estradas. Ao impulsionar a utilização da bioenergia avançada e outras soluções sustentáveis, estamos a traçar um rumo que não só protege o nosso planeta, mas também fortalece a nossa economia e melhora a qualidade de vida das gerações futuras.

Portugal tem a oportunidade de liderar esta transição, mostrando ao mundo que um futuro descarbonizado é não só possível, mas essencial. É imperativo que continuemos a investir, inovar e educar, assegurando que a mobilidade verde se torne uma realidade concreta e abrangente. O relógio não para e a hora de agir é agora.