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De Macau para Portugal, como vencer ‘guerra’ com máscaras, desinfetantes, isolamento e rastreios

O médico português representante dos Serviços de Saúde de Macau Jorge Sales Marques disse hoje à Lusa que a ‘receita’ para vencer a guerra contra a covid-19 passa pelas máscaras, desinfetantes, isolamento e rastreios.
23 Março 2020, 07h48

O pediatra, que integra a equipa médica de Macau envolvida na linha da frente do combate ao surto do novo coronavírus, mostrou-se “preocupado”, enquanto médico e português, com o aumento de casos em Portugal e com “algumas imagens” que ilustram situações de incumprimento de regras básicas, afirmou em entrevista à Lusa.

“Vejo às vezes, com preocupação, como português, (…) imagens na rua e em locais” que mostram pessoas “que não estão a seguir regras”, que é preciso “cumprir numa situação de pandemia”, afirmou o especialista, salientando que, “a curto prazo (…) será diferente: quando surgirem mais casos e mais mortes o impacto será maior”.

Jorge Sales Marques assegurou que boa parte da ‘receita’ para se vencer “a ‘guerra’ que está a ser travada” passa pela utilização de máscaras e uso de desinfetantes, pelos exaustivas medições de temperatura e pelos inevitáveis controlos fronteiriços, salientando a necessidade de se evitar a aglomeração de pessoas, pela disciplina de se ficar em casa, ao encontro de orientações associadas ao distanciamento social.

“Temos de combater o ponto mais fraco do vírus”, através do “auto-isolamento”, já que este “só se propaga se tiver pessoas, caso contrário vai morrendo, vai perdendo forças, vai diminuindo o número de mutações, e vai acabar por desaparecer”, sustentou, “como médico e como português, preocupado pelo número de casos que estão a surgir” em território nacional.

Jorge Sales Marques integra uma equipa composta por 23 médicos e 60 enfermeiros que combatem a covid-19, “na linha da frente”.

Os profissionais de saúde trabalham por turnos de 14 dias, “completamente equipados com material de proteção individual, que inclui óculos, luvas e máscaras”, seguindo, depois de revezados, para uma quarentena de outros tantos dias, que é cumprida numa residência anexa ao local onde prestam serviço equipada com uma centena de camas, em quartos individuais.

“Ficam em isolamento voluntário (…) para impedirem o contágio a familiares ou [a pessoas com] o sistema imunológico comprometido”, frisou.

O especialista sublinhou que “os profissionais de saúde que estão na linha da frente, quer em Portugal, quer em Macau, em todos os lados, não querem ganhar essa guerra sozinhos”.

“Não queremos ser os heróis desta guerra, temos de partilhar isto”, disse, defendendo duas convicções profundas.

A primeira é que “tem de haver sobretudo uma comunhão entre quem manda e quem orienta e quem deve cumprir, que é a população”.

A segunda diz respeito ao momento e às ações definidas. “Só com medidas corajosas é que podemos ganhar terreno. Se tivermos medo de atuar vamos perder o ‘timing’ ideal”, sustentou.

Meses de combate à epidemia em Macau e o olhar sobre o que está a ser feito em outros territórios e países em todo o mundo, permitem-lhe fazer uma outra previsão: “Certamente virão novas pandemias e vamos estar mais preparados para as combater logo de início com medidas corajosas”.

Macau já encaminhou milhares de pessoas para quarentena, depois de ter endurecido as restrições de fronteiriças num território que registou numa fase inicial dez casos. Agora, tem 24, mas os primeiros dez já receberam alta hospitalar.

Atualmente enfrenta uma nova vaga, de casos importados: 14 numa semana, depois de ter ficado 40 dias sem anunciar novos contágios.

Desde quinta-feira só é possível a entrada de residentes de Macau, Hong Kong, Taiwan e China continental. Mesmo estes passaram a estar sujeitos a uma quarentena obrigatória de duas semanas, caso tenham estado nos 14 dias anteriores em qualquer território ou país.

Segundo os últimos dados do Governo de Macau, estão 1.394 pessoas isoladas em sete hotéis que o Governo de Macau decidiu converter em centros de quarentena.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 324 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 14.300 morreram.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, com a Itália a ser o país do mundo com maior número de vítimas mortais, com 5.476 mortos em 59.138 casos. Segundo as autoridades italianas, 7.024 dos infetados já estão curados.

Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.

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