Nos últimos dias têm surgido diversas questões em torno do “DEC” (Défice, Emprego e Crescimento). Até agora, a que mais me surpreendeu foi aquela que me foi dirigida por uma amiga: “como é que Costa consegue ter bons resultados, ao contrário de Passos e Portas?”. Esta pergunta demonstra bem o que conseguem fazer as máquinas de propaganda política. É por isso que vale sempre a pena consultar as estatísticas oficiais.

1. Défice público: excluindo medidas temporárias e factores especiais, o défice reduziu-se de 3,0% do PIB em 2015 para 2,4% em 2016. Costa, ao não romper com a austeridade, conseguiu de facto diminuir o défice em 2016. No entanto, recorde-se, em termos comparáveis, o “prejuízo” já havia caído de 8,4% do PIB em 2010 para 3,0% em 2015. Isto é, se a consolidação orçamental de 2011-2015 não tivesse ocorrido, então é certo que Portugal não teria quaisquer hipóteses de sair num futuro próximo do Procedimento dos Défices Excessivos (PDE).

2. Emprego: entre o 1º trimestre de 2013 e o 1º trimestre de 2017, a população empregada aumentou em 304 mil. Já no período mais recente, compreendido entre o 4º trimestre de 2015 e o 1º trimestre de 2017, o aumento foi de 97 mil. É verdade que durante o mandato de Costa a população empregada tem crescido, mas também fica claro que nos últimos anos de governação de Passos e Portas a mesma já havia sofrido um forte aumento.

3. Crescimento económico: desde que Costa tomou posse que Portugal ainda não parou de crescer em termos homólogos. Porém, antes mesmo desse acontecimento político, já existiam oito trimestres consecutivos com variações homólogas positivas do PIB; na altura, a Comissão Europeia chegou mesmo a afirmar que Portugal havia realizado um milagre (ver aqui). Em 2017, o ritmo do crescimento económico está a acelerar, o que é extremamente positivo. Aparentemente, Centeno tinha razão quando há um ano, num contexto de abrandamento, pedia para que se esperasse que as reformas implementadas nos anos anteriores – leia-se pelo governo PSD e CDS –  surtissem efeitos no PIB (ver aqui).

É um facto que não vale a pena perder tempo a discutir quem teve mérito nos resultados do crescimento, e já agora nos do défice e do emprego. Contudo, a bem do esclarecimento público, deve ser clarificado – sob pena de se atribuir somente os louros a uma das partes envolvidas no xadrez político – que esta tendência não se iniciou agora. É transversal a mais do que um governo, e também a mais do que um Presidente da República, e é fruto, acima de tudo, do esforço que as famílias e as empresas portuguesas têm vindo a realizar ao longo dos últimos anos.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.