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Deco alerta para preços “demasiado elevados” do gás de botija

Mesmo com a descida do preço de petróleo desde final de 2019, o custo das garrafas continua sem refletir a desvalorização da matéria-prima, defende Associação para a Defesa do Consumidor. Deco alerta que perdem os consumidores dos 2,6 milhões de lares.
27 Agosto 2020, 17h45

A Associação para a Defesa do Consumidor (Deco) alerta que, apesar da descida do preço de petróleo que se verificou desde final de 2019, o gás engarrafado continua a ser vendido por valores “muito acima do que seria suposto”. Em junho, a Deco recolheu 2200 preços de gás engarrafado em 250 pontos de venda e conclui que o preço médio de uma garrafa de butano de 13 Kg é de 25,09 euros.

“Embora este valor seja mais baixo do que os verificados no primeiro trimestre do ano, continua sem refletir a queda que seria possível devido à descida do preço da matéria-prima. Ganham os operadores, que têm visto as suas margens aumentar, e perdem os consumidores dos 2,6 milhões de lares prisioneiros desta fonte de energia”, revela a Deco nesta quinta-feira, 27 de agosto.

Segundo as contas da Deco Proteste, desde o primeiro trimestre, o preço de referência – inclui matéria-prima, transporte, reservas, enchimento, bem como taxas e impostos sobre estas componentes – baixou cerca de 4,50 euros. Já o preço final de venda ao público da garrafa de butano de 13 kg baixou apenas dois euros, diz.

“Tal como ilustram os relatórios mensais da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), a margem de retalho cresceu de 50% para 62%, entre janeiro e abril. Se a descida do custo da garrafa tivesse acompanhado a do preço de referência, estimamos que teria um valor a rondar os 20 euros”, frisa a Associação.

Gás mais caro a sul

De acordo com a Deco, a sua plataforma “Poupe na botija” ajuda a ter noção dos preços do gás engarrafado em vários pontos do País, na qual a Associação faz recolhas regulares dos valores em todo o território nacional para ter “uma ideia do panorama geral”.

“Este ano, devido às restrições impostas pela pandemia da covid-19, estivemos mais limitados e, em junho, só recolhemos preços em 250 pontos de venda de nove distritos e nas regiões autónomas”, explica Deco, dando conta de que quem vive no sul paga mais pelas garrafas de gás.

Segundo a Associação, os habitantes de Setúbal, Faro e Évora veem o custo da garrafa aumentar cerca de um euro face à média nacional. Comparando com o distrito com o preço médio mais baixo — 24,50 euros, em Bragança — a diferença é de mais de 1,50 euros, frisa, acrescentando que embora o montante não pareça significativo, para um consumo anual de 12 garrafas de gás, um consumidor de Setúbal gasta mais 22 euros por ano nesta energia do que outro que viva em Bragança.

“Não encontramos razões de logística ou outras que justifiquem estas diferenças entre o norte e o sul do País”, conclui

Nos preços recolhidos, a Deco revela que acima da média estão os distritos de Setúbal (26,35 euros), Faro (26,08 euros), Évora (26,03 euros), Coimbra (25,78 euros), Porto (25,36 euros) e Guarda (25,25 euros).

Já nos distritos com preços abaixo da média, são sinalizados Braga (24,96 euros), Lisboa (24,64 euros) e Bragança (24,50 euros). Já na Madeira, onde a taxa do IVA é 21%, o custo da garrafa de gás é 23,57 euros e nos Açores, onde o preço é definido pelo governo autónomo, o custo é de 19,24 euros.

Butano custa mais do dobro do natural, diz Deco

A Deco avança ainda que compara com regularidade o preço do gás engarrafado com o do gás natural, usando como indicador, o custo do quilowatt-hora (kWh). Deste modo, diz recorreu a uma unidade de energia equivalente, concluindo que “em 14 anos, a diferença entre o custo de ambas as energias quase triplicou”.

De acordo com a Associação, enquanto, em 2006, os consumidores de butano pagavam cerca de 3,5 cêntimos a mais por kWh do que os utilizadores de gás natural, em 2020, essa diferença é de cerca de nove cêntimos.

“Este valor resulta de uma descida sustentada do custo do gás natural nos mercados internacionais, neste período, e que foi refletida no preço pago pelo consumidor. Já com o GPL, onde se insere o gás butano, a descida do preço da matéria-prima não tem sido refletida na mesma proporção”, adianta a Deco.

Por esta razão, a Deco conclui que atualmente, um consumidor de gás engarrafado paga mais do dobro por kWh do que paga um utilizador de gás natural. “É como se tivéssemos portugueses de primeira, com acesso a uma energia mais barata e mais prática — chega aos lares por canalização —, e de segunda, que só têm ao dispor o gás butano, mais caro, e que não podem optar pelo natural”, frisa.

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